Manuel Lemos diz que misericórdias foram instadas a identificar os elementos da direção para vacinar.
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Os responsáveis pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e das misericórdias portuguesas dizem-se "indignados" com o clima de suspeição sobre a vacinação dos dirigentes ativos em lares da terceira idade.
O presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, garantiu, quinta-feira no Parlamento, que as estruturas receberam ordens superiores para incluir esses elementos nas listas. Lino Maia, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), receia que a polémica leve à "debandada" de dirigentes.
Na Comissão Eventual sobre medidas de resposta à pandemia, Manuel Lemos apresentou uma nota que terá chegado a todas as estruturas residenciais para idosos, em que era pedida a identificação "de elementos da direção e de colaboradores da instituição" para vacinar. Essa informação, a fornecer ao Estado, constava do "anexo 1", precisou. O JN teve acesso a um dos e-mails da Administração Regional de Saúde do Norte com o mesmo conteúdo, com data de 9 de janeiro.
"Se há criminoso, sou eu"
Foi baseada nesta comunicação que, por exemplo, os responsáveis do Centro Social Paroquial de Sobreposta, em Braga, enviaram uma listagem em que incluíram quatro elementos da direção que costumam frequentar a instituição.
"A 18 de dezembro, enviámos uma primeira listagem, a pedido da Saúde Pública, com os colaboradores do lar para vacinação. Em janeiro, a pedido da Segurança Social, enviámos outra listagem com os colaboradores e, aí, até referi que achava injusto os colaboradores ao domicílio não fazerem parte da lista. A 9 de janeiro, recebemos uma nova comunicação da Saúde Pública para enviar os nomes dos colaboradores ligados ao lar e dos elementos da direção", conta a diretora-técnica, Daniela Oliveira.
A responsável garante que os quatro elementos são pessoas que "têm necessidade de ir à instituição. Temos zero casos covid, desde março. Aqui não entra ninguém. Se é preciso arranjar um autoclismo ou há uma avaria elétrica, são eles que vêm cá", esclarece.
Lino Maia admitiu, no Parlamento, que foi o próprio a sugerir ao Governo a inclusão de "dirigentes ativos" na primeira fase de vacinação. O responsável fala de pessoas "que passam horas nas instituições", pelo que "não se trata de um privilégio. Se há algum criminoso, o criminoso sou eu. Eu é que introduzi a questão dos dirigentes ativos e coloquei-a em três instâncias: na comissão permanente de concertação social à ministra do Trabalho, ao ex-coordenador da task force da vacinação e num encontro com o primeiro-ministro. Nenhum dos três disse amém, mas nenhum dos três me contrariou", afirmou.
Segundo o presidente da CNIS, a polémica já está a levar a que "muitos dirigentes peçam a demissão". "Se já é difícil encontrar pessoas que deem o corpo ao manifesto, com isto tudo ainda é pior", lamentou.