Foi com aplausos que os peregrinos que esta quinta-feira de manhã estiveram em Fátima assinalaram o reconhecimento das virtudes heroicas da irmã Lúcia, que constam no decreto Papal lido na Cova da Iria.
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"A irmã Lúcia será Santa, não porque viu Nossa Senhora, mas pelo testemunho de vida que levou". A convicção é de Maria Izailma Silva, religiosa das Irmãs Evangélicas de São Paulo que assistiu, emocionada, à leitura do decreto das virtudes heroicas da vidente de Fátima, efetuada esta manhã, no início da missa que encerrou a peregrinação internacional de julho.
O documento, prologado pelo Papa a 22 de junho e lido agora "pública e solenemente" por Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, reconhece que Lúcia de Jesus "exerceu em grau heróico" as virtudes teologais da fé, esperança e caridade", bem como "as virtudes cardeais da prudência, justiça, fortaleza e temperança e as virtudes anexas".
Recorrendo a uma frase do evangelho de São João, o decreto aponta Lúcia como "uma lâmpada que ardia e iluminava" e que foi "profeta da graça e misericórdia". "A partir do silêncio do claustro, tornou-se figura universal, guardando no seu coração os dramas do mundo, através da oração e dos sacrifícios", salienta o decreto, frisando ainda que "a sua vocação foi vivida de modo radical como serviço à Igreja".
Passo importante para a canonização
No documento recorda também alguns dos momentos mais importantes da vida da religiosa que, após a morte dos primos Francisco e Jacinta, se tornou "única guardião da mensagem de Fátima", e refere "a grande fama de santidade" da irmã Lúcia, falecida em 2005 no convento do Carmelo em Coimbra e transladada para Fátima em fevereiro de 2006.
Este último momento foi presenciado por Maria Izailma, que, meses antes, se tinha mudado para Fátima para assumir a gestão da casa que a congregação tem na Cova da Iria. "Não troco este lugar por nenhum outro. Só pelo paraíso", diz a freira, que se confessa "muito feliz" pelo reconhecimento das virtudes heroicas de Lúcia. "Teve uma vida exemplar. Merece a graça de ser levada aos altares como Santa", defende.
O mesmo entendimento tem Maria José Capitão, de 68 anos, que se confessa devota de "todos os santos", incluindo Francisco e Jacinta Marto, esperando que um dia Lúcia possa também subir aos altares. "Vou rezar por isso", promete a mulher, natural da Covilhã e residente em Pombal, que, neste 13 de julho, esteve em Fátima, especialmente, para rezar pela irmã, ainda a recuperar de uma "grande" intervenção cirúrgica. "Peço a Nossa Senhora e aos Pastorinhos para que, no próximo ano, já possa estar aqui comigo em maio, como acontecia sempre", revela, enquanto espera pelo início da missa, confessando que não sabia que hoje seria lido o decreto das virtudes heroicas da irmã Lúcia.
"É um passo muito importante para o processo de beatificação e canonização, se for esta a vontade de Deus", disse o reitor do Santuário, ao introduzir a leitura do decreto feita por Virgílio Antunes.
Já na homilia, o bispo auxiliar de Braga, Delfim Marques, a presidir, pela primeira vez, uma peregrinação internacional em Fátima, sublinhou a importância de "escutar a Palavra de Deus", mas, frisou, "não basta, é preciso pô-la em prática, com gestos, atitudes e pequenas ações".
"Precisamos de passar das palavras aos atos, das intenções às ações. Isto fará toda a diferença nas pequenas comunidades onde vivemos e nas comunidades maiores. Não amemos com palavras e com a boca, mas com obras e com verdade", pediu o prelado.
O bispo auxiliar de Braga realçou ainda o papel que "cada um" é chamado a desempenhar como "promotor da paz", através de uma "rede de bem fazer". "Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o nosso coração. Não depende de nós a conversão do outro, mas podemos propor e testemunhar", exemplificou.
No encerramento da peregrinação, o bispo de Leiria-Fátima fez também um apelo "à oração pela justiça e pela paz no mundo, na Ucrânia e em todas as outras situações de conflito".