
Príncipe Rahim al-Hussaini é o novo guia espiritual dos ismaelitas
Foto: Miguel A. Lopes / EPA
Praticam a solidariedade social e têm fortes ligações a Portugal, onde contam com 8000 seguidores. A religião ismaelita tem novo líder, mas mantém os desafios de sempre. Em particular, o comprometimento com o pacifismo e a ajuda ao próximo.
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Entronizado nesta terça-feira, em Lisboa, o príncipe Rahim al-Hussaini tornou-se o 50.º imã dos ismaelitas e abriu um novo capítulo na história desta religião minoritária. Considerado descendente direto do profeta Maomé, sucedeu ao pai, falecido a 4 de fevereiro e que deixou em testamento todas as indicações sobre como deveria desenrolar-se o seu processo de substituição, que acabou seguido à risca.
Aos 53 anos, Rahim al-Hussaini, que conta com uma forte ligação a Portugal, tornou-se Aga Khan V, o líder máximo da comunidade ismaelita. Divorciado de uma modelo norte-americana, tem dois filhos, nasceu na Suíça, viveu em Paris, estudou nos EUA e em Barcelona. Faz da discrição ponto de honra. A nova função confere-lhe estatuto de chefe de Estado. “Comprometo-me a dedicar a vida a cuidar do bem-estar espiritual e material da comunidade ismaelita”, prometeu no seu primeiro discurso nas novas funções.  
Nascidos de uma ramificação dos xiitas islâmicos no século VIII, os ismaelitas tornaram-se destaque ao longo da História pela forte componente de ajuda aos mais desfavorecidos e pelas práticas pacifistas. Devido a uma crise de sucessão dentro do xiismo, provêm dos descendentes diretos de Ismael, filho de Abraão. Nunca tiveram pátria, sequer área geográfica fixa, fazendo do nomadismo filosofia inicial de vida. Atualmente, são cerca de 15 milhões, de acordo os dados oficiais, e estão presentes nos cinco continentes, em particular na Índia e no Paquistão.
A ligação a Portugal é profunda, sobretudo desde a instalação no país do Centro Ismaili, que impera na Avenida Lusíada com os seus 18 mil metros quadrados de área, 12,5 mil dos quais espalhados por quatro jardins, que guardam mais de 300 árvores e cem espécies diferentes de plantas. Inaugurado em 1998 com arquitetura do indiano Raj Rewal e do português Frederico Valssassina, o edifício mistura influências que vão do Mosteiro dos Jerónimos ao andaluz complexo de Alhambra (Espanha). Números da comunidade adiantam que são 8000 os seguidores ismaelitas em território nacional.
Ali funciona a Fundação Aga Khan Portugal, parte da rede internacional Aga Khan para o Desenvolvimento, responsável por ações nas áreas do “desenvolvimento da infância, educação, sociedade civil, inclusão económica e seniores”, conforme referem os seus princípios de ação. Através de parcerias, trabalha em conjunto “com organizações públicas, privadas e da sociedade civil que partilham os seus objetivos”, dando mostras de abrangência e integração.
“Os ismaelitas são cidadãos responsáveis dos países onde vivem, que abraçam o pluralismo construindo pontos de paz e entendimento”, explica o Centro Ismaili na sua página oficial. “Compartilham generosamente o seu tempo, talentos e recursos materiais para melhorar a qualidade de vida da sociedade”, acrescenta.
Outra característica que os difere das restantes religiões é o facto de contarem com uma constituição escrita que lhes rege as normas. Começou a ser preparada em 1964, mas apenas foi promulgada em 1998, pretendendo funcionar como que um “selo de unidade” para agregar uma diáspora unida pela fé comum, mas dividida pela distância.
