Só em escolas da Região de Lisboa e Vale do Tejo há registo de quase mil casos positivos. Fenprof entregou ação para intimar Ministério a revelar dados.
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Há cada vez mais turmas em isolamento profilático. Não há números oficiais de quantos alunos estão ou já estiveram em casa por causa da covid, mas basta que 1% esteja nessa situação para falarmos de muitos milhares. Partem e regressam num movimento constante que obriga as escolas a uma reorganização contínua, alertam os diretores. As respostas são díspares: alunos que não são contactados durante esses dias, outros que têm um plano de aulas síncronas e usam os seus smartphones. Há escolas que compraram câmaras para as aulas em direto e professores que usam os seus portáteis e net pessoais. A fraca capacidade da rede e a falta de equipamentos são graves problemas.
Entre 1 de outubro e 9 de novembro, só em Lisboa e Vale do Tejo, 268 estabelecimentos de ensino (públicos e privados) reportaram 958 casos positivos, revelou a Administração Regional de Saúde (ARS) da região. A ARS do Algarve tem registados 86 casos em 50 escolas, "em média um ou dois casos por estabelecimento, todos com origem fora do contexto escolar". As ARS do Norte, Centro e Alentejo não responderam ao JN. Tal como o Ministério da Educação (ME), que há cerca de duas semanas anunciou uma nova plataforma para os diretores reportarem casos positivos e em isolamento de professores, funcionários e alunos. "Basta que sejam 1% dos alunos para serem 12 mil", frisa Mário Nogueira. A Fenprof entregou no Tribunal Administrativo de Lisboa uma ação de intimação para o ME revelar os dados das escolas.
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"Tenho mais de cem alunos em casa", assume Manuel Pereira, diretor do agrupamento de Cinfães, que comprou 30 câmaras para transmitir aulas a quem vai para casa. A capacidade da rede é o maior problema: "Se estiverem cinco professores online em simultâneo, cai". O também presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) garante que apesar de haver "muitas centenas" em casa, as escolas continuam a ser o lugar "mais seguro".
Os agrupamentos têm autonomia para definir os seus planos e há outras medidas, como a Classroom, a Escola Virtual (da Porto Editora) ou o Estudo em Casa, sublinha Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de diretores (ANDAEP).
"A culpa não é das escolas, mas há soluções consoante a geografia", tanto em relação aos isolamentos como aos acompanhamentos, frisa André Julião, presidente da Associação Todos pela Escola, que reivindica uma estratégia uniformizada. A ATEP, a Confap e a Fenprof receberam queixas de alunos que não são contactados durante os dias em casa. Mas também conhecem casos de outros que fazem aulas por tablet ou telemóvel com planos bem definidos.
Ajustar avaliação
"Ninguém pode ficar abandonado. Até pedimos à Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares para averiguar algumas situações", revela Jorge Ascenção. O presidente da Confap insiste que uma comunicação "clara e coerente" é essencial para se perceber os diferentes critérios de isolamento e de acompanhamentos. "O porquê nunca é divulgado", frisa, preocupado com os efeitos da instabilidade nos ritmos de aprendizagem.
"É mais um ano atípico", sublinha Filinto Lima, assumindo que os critérios de avaliação poderão ter de ser reajustados como no 3.º período. "Os alunos vão aprender ao ritmo que conseguirem", insiste Manuel Pereira, que não esconde ser impossível as escolas atingirem metas como na pré-pandemia.
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Isolamento pela SNS24 não justifica faltas
Há professores que são enviados para isolamento pela linha SNS24 e não conseguem declaração para justificar as faltas, alertam sindicatos e diretores. "Um professor com sintomas contactou a linha, ficou em isolamento, o teste deu negativo e apesar de ter pedido atestado perdeu três dias de salário", revela o líder da Fenprof. Filinto Lima defende a concentração das decisões nos centros de saúde a que pertence a escola. O Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), com quatro casos positivos, ficou "deserto" e ainda há ausências nas escolas por justificar.
Fechadas
Desde segunda-feira e até dia 29, a Secundária Santa Maria do Olival (Tomar) vai estar fechada em ensino à distância depois de ter sete turmas em isolamento por casos de covid-19. Na sexta-feira, foi fechada a EB1 Jorge Barradas em Lisboa, com sete alunos infetados.
803 com casos
O levantamento feito pela Fenprof já contabiliza 803 escolas com casos positivos "Há um mês, havia muitas com um caso, agora há escolas com dez alunos infetados. E tem havido um aumento entre os adultos", frisa Nogueira.
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Programa digital
Os primeiros cem mil computadores com net vão ser distribuídos a alunos do escalão A da Ação Social de secundárias. Já estará a decorrer outro concurso para a aquisição de mais 300 mil portáteis mas ainda não há previsão de quando serão entregues.
3,57 casos por agrupamento em Lisboa e Vale do Tejo. A maioria entre alunos do Secundário (32,57%) e do 2.0 Ciclo (21,53%).