Perderam a vida 29 vítimas em incêndios urbanos em 2019 e cinco este ano. Casas energeticamente ineficazes e preço da luz são as principais razões.
Corpo do artigo
A falta de aquecimento nas casas portuguesas durante o inverno está diretamente ligada ao aumento do número de incêndios urbanos. Por causa deles, já morreram sete pessoas apenas este ano, 36 se somarmos este número às 29 vítimas registadas no ano passado, de acordo com a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC).
Desde a última semana de outubro até esta segunda-feira, morreram 14 pessoas a tentarem aquecer-se, provocando incêndios em casa, ora por causa de más instalações elétricas ou anomalias com equipamentos de aquecimento (como aquecedores ou cobertores elétricos) ou em quedas em lareiras ou ainda por inalação de monóxido de carbono, de acordo com uma recolha feita pelo JN de notícias veiculadas na Comunicação Social. Pelo menos 31 pessoas ficaram desalojadas, mais 10 do que em igual período do inverno passado.
De acordo com dados fornecidos pela ANPC, desde 2010, houve um total de 57 127 incêndios urbanos e morreram 387 pessoas. Segundo a autoridade, há um aumento do número de incêndios urbanos desde o início da década, altura em que a troika entrou em Portugal e os portugueses se viram obrigados a libertar-se de despesas, sendo a do aquecimento elétrico o primeiro a ter sido descartado.
10388880
Estando Portugal na liderança da lista de países europeus que mais paga por energia elétrica (ver texto ao lado), passou a recorrer-se a fontes de aquecimento mais económicas mas muito mais mortíferas, aumentando o número de casos de mortes por quedas em lareiras ou por inalação de monóxido de carbono, (devido ao uso de braseiros ou geradores em habitações mal ventiladas e pobremente protegidas contra o frio dos invernos portugueses). Tudo isto, somado ao facto de as construções serem, na sua maioria, de fraca qualidade no combate ao frio e energeticamente muito pouco eficazes.
O pior ano
O pior ano da década foi o de 2012, em que perderam a vida 50 pessoas em incêndios, e o menor, com 29, foram 2014 e 2019. Ainda o mês de janeiro não chegou ao fim e já morreram cerca de um quinto das pessoas que faleceram no ano passado devido às mesmas circunstâncias.
A maioria dos casos mortais acontecem no interior do país e com pessoas mais idosas que vivem sós. "É uma questão sobretudo social, de pessoas que estão sós e que não deveriam estar", disse ao JN fonte da Autoridade Nacional de Proteção Civil.
Os incêndios urbanos são mais mortíferos durante os meses mais frios do ano e as horas das refeições (almoço e jantar) ou de madrugada/manhã, quando está mais frio, são as alturas do dia em que se registam mais sinistros.
1495570
Apesar de ser um dos países da Europa com as temperaturas mais amenas, a mortalidade invernal excessiva portuguesa é de 28% quando a do resto do continente ronda os 15%, segundo um estudo da Universidade de Dublin. De acordo com o resultado de um inquérito, realizado há três anos em Portugal Continental pelo Portal da Construção Sustentável, em parceria com a Quercus, sobre o conforto térmico em casa, três quartos dos portugueses sentem frio na habitação.
Outubro 2019 - Em Joanes, Fundão, morreu um casal e uma criança por inalação de monóxido de carbono. Em Parada, Bragança, um homem caiu na lareia e morreu. Na Póvoa de Varizm morreu um casal.
Novembro 2019 - Morreu idosa em Peniche e um homem, intoxicado com monóxido de carbono, em Esmoriz.
Dezembro 2019 - Três pessoas morreram em Oeiras, Valpaços e Ovar.
Janeiro 2020 - Morreram cinco pessoas em Terras de Bouro, Barcelos, Viseu (duas) e Sabrosa.
As principais causas das mortes
Monóxido de carbono - Deve manter-se os espaços arejados, quer seja uma sala aquecida por uma lareira, braseira ou outro sistema de queima ou mesmo quando se está a cozinhar.
Lareiras - No final do inverno, deve ter-se o cuidado de se fazer uma inspeção à lareira e limpeza da chaminé e ainda instalar-se detetores de monóxido de carbono.
Aquecedores - Os aquecedores elétricos devem ser revistos todos os invernos para verificar falhas que possam provocar sobrecarga. Devem, ainda, ser desligados quando o utilizador vai para a cama.