Filipa Guimarães, doente oncológica, lançou petição a defender um regime exceção
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Tinha 36 anos. Ironicamente, era Dia dos Namorados. Estávamos em 2015 quando foi diagnosticado cancro da mama a Filipa Guimarães. Todo um código genético familiar de alto risco. Toda uma paixão pelo mar. Toda uma resistência.
Não tinha filhos quando foi sujeita a uma cirurgia bilateral. Seguida de tratamentos altamente agressivos. Graças ao esclarecimento de uma enfermeira, conseguiu criopreservar cinco óvulos na Maternidade Alfredo da Costa.
Hoje, tem 43 anos. Fora do limite legal para tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) comparticipados no Serviço Nacional de Saúde. É essa a missão da petição que lançou no domingo à noite. Um regime de exceção para estas mulheres."Já basta terem passado por um cancro e agora terem que pedir um empréstimo para terem um filho".
Viu-lhe induzida uma menopausa aos 36 anos de idade, porque tinha um cancro hormono-dependente. Fez seis ciclos de quimioterapia. Seguidos de cinco anos de Zolodex e Tamoxifeno "para estagnar a possibilidade de uma recidiva". Se engravidasse "no tratamento o feto podia nascer com malformações". Terminados em pandemia.
"Estou a tentar. Estou a menstruar. Mas não estou a conseguir". Todos os médicos que a acompanham dizem-na apta para inseminação. Mas já passou o limite do SNS. Resta-lhe os privados, onde aqueles tratamentos podem ser feitos até aos 50 anos de idade. "Tenho que equacionar o privado, apesar de achar que é injusto".
Porque, diz ao JN e vinca na petição que lançou, "o Estado social não financia a vida; mas a interrupção voluntária da gravidez não tem limite de idade nem de vezes" - o SNS financia três ciclos de tratamentos de PMA.
Chama-lhe um "grito". Uma tentativa de "sensibilizar a sociedade". Porque existe. "Há muitas mulheres na minha situação. Já não basta passarem por um cancro e ainda terem que pagar uma inseminação. Uma tentativa custa 4000 euros". Conta com mais de 1600 assinaturas. "E muita esperança de que dê frutos".