O secretário-geral do PCP está "preocupado" com o impacto que a maioria absoluta do PS pode ter nos problemas do país. Jerónimo de Sousa teme que a nova correlação de forças no Parlamento fortaleça os patrões e admite que, face à nova configuração do Parlamento, a relação com o Governo passará a ser "diferente".
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"O diálogo institucional sempre existiu", respondeu o líder comunista, à saída de uma reunião com o primeiro-ministro, em São Bento, quando questionado sobre se esta ronda de audiências por todos os partidos poderá significar que António Costa quer privilegiar o diálogo mesmo estando em maioria no Parlamento.
No entanto, Jerónimo reconheceu, esta terça-feira, que a maioria absoluta do PS irá alterar os moldes da relação entre Governo e PCP: "Sim, será diferente, admito". Em concreto, as reuniões bilaterais passarão a estar limitadas a assuntos "de regime" como a regionalização, frisou.
"A questão", prosseguiu o líder do PCP, "é o objetivo da intervenção de uma maioria absoluta que nos deixa preocupados". Para Jerónimo, quem obtém esse resultado nas urnas "deve assumir toda a responsabilidade" quanto à resolução dos problemas do país, uma vez que esta deixa de ser "delegável".
O comunista referiu que o "fundamental" é "encontrar respostas" para problemas que "continuam latentes". Entre eles referiu os salários, o estado atual do SNS, a questão da habitação, a "revogação das normas mais gravosas da legislação laboral" ou a necessidade de robustecer as redes públicas de creches.
Afirmando que é necessário ter "coragem para enfrentar os interesses dos grupos económicos" - e aludindo, também, ao preço dos combustíveis e da energia -, Jerónimo disse temer que a maioria absoluta faça o Governo agir em sentido contrário.
Evocando um "passado recente", o comunista mostrou reservas face a um PS "com as mãos livres" para agir como quer. No seu entender, a consequência prática da "estabilidade" dada pelas maiorias absolutas é deixar as confederações patronais com "caminho mais ou menos aberto" para consolidarem os seus interesses.
