Jerónimo de Sousa evoca José Dias Coelho e promete continuar uma luta de causas
O secretário-geral do PCP exaltou, este domingo, a coragem e a firmeza de convicções do antifascista José Dias Coelho e garantiu que o PCP continuará a lutar pelas causas que honram a memória daquele militante assassinado pela PIDE.
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"José Dias Coelho tombou para sempre às balas assassinas desse regime brutal, tecendo armas neste combate desigual pela libertação do seu povo. A vida de um revolucionário chegou ao fim, mas não a luta que ele honrou", disse Jerónimo de Sousa ao discursar, em Lisboa, na sessão pública evocativa do 60º aniversário do assassinato do artista e militante José Dias Coelho.
Fazendo um paralelismo entre o passado e o presente, comentou: "Mudou muita coisa desde que José Dias Coelho prematura e dramaticamente nos deixou, mas permanecem as injustiças e as desigualdades", assegurando que o PCP continua determinado, confiante e combativo em concretizar um projeto "transformador e emancipador".
Segundo o secretário-geral do PCP, essa luta de José Dias Coelho "continuou e venceu em Abril de 1974, e continua hoje, porque inacabada ficou essa revolução libertadora, porque ficaram por cumprir muitas das suas causas que hoje" o PCP continua "a tomar em mãos e porque no horizonte permanece a luta por uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem"
Nas palavras de Jerónimo de Sousa, são essas causas que alimentam os combates de hoje do PCP e "dão coerência e sentido a esse futuro" que o partido comunista português quer construir.
O líder comunista enumerou muitas dessas causas, a começar pela causa do direito do povo português ao desenvolvimento soberano, livre das imposições e submissões impostas do exterior, sejam "as antigas que ainda permanecem, sejam as novas que resultam das imposições da União Europeia e do Euro".
Apontou também a causa que exige a recuperação de instrumentos de soberania, o controlo público dos setores e empresas estratégicas, a aposta na produção nacional como questão decisiva para o emprego, o desenvolvimento e a diminuição da dependência e endividamento externos.
Outra causa - enfatizou - exige "romper com a política de direita e de submissão aos interesses do grande capital nacional e transnacional promovida pelas forças que, à vez, têm governado o país nas últimas décadas".
A valorização do trabalho e dos trabalhadores, a valorização geral dos salários, do salário mínimo nacional e do salário médio, das carreiras e das profissões, o combate à precariedade, a eliminação das normas gravosas da legislação laboral foram outras causas assinaladas pelo secretário-geral do PCP.
Jerónimo de Sousa defendeu ainda a valorização das pensões de reforma de quem trabalhou, garantindo a actualização anual de todas as pensões, incluindo das que estiveram congeladas, assegurando a reposição e valorização do poder de compra e o direito à reforma sem penalização nas longas carreiras contributivas.
A causa dos direitos das crianças, garantindo nomeadamente creches gratuitas para todas as crianças e a construção de uma rede pública de creches, e a causa do direito à saúde, à educação, à habitação e à mobilidade, por funções sociais e serviços públicos de qualidade foram outros aspetos salientados pelo dirigente comunista.
"Premente nos dias de hoje é a causa da defesa e o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A grave situação do SNS exige respostas imediatas. Entre outras medidas, é fundamental instituir a opção de dedicação exclusiva dos médicos e enfermeiros. É preciso também garantir incentivos que tornem atrativa a sua opção, pela fixação em zonas carenciadas, tal como se impõe a construção de infraestruturas já decididas e programar o conjunto de outras, inclusivé obras de reabilitação e requalificação do parque de instalações do SNS", precisou ainda.
Valorizar a escola pública, combater a carência de professores, investir na domínio da cultura e responder aos problemas da habitação e transportes foram outros vetores da sua intervenção.
Jerónimo de Sousa defendeu ainda uma justa política fiscal que enfrente a corrupção, os privilégios e a fuga do grande capital ao pagamento de impostos.
"Estas são, entre outras, causas que não encontram resposta nas forças que, à vez, têm governado o país nas últimas décadas" criticou.
Na sessão evocativa participou o coro Lopes Graça e foi colocada uma coroa de flores junto ao local em Alcântara, Lisboa, onde José Dias Coelho foi baleado por agentes da PIDE, numa rua que tem hoje o nome do artista e militante comunista.
"Foi em 19 de Dezembro de 1961 que a PIDE ceifou a vida de José Dias Coelho, tinha 38 anos. A esse homem generoso que tudo arriscou e tudo sacrificou, incluindo a sua carreira artística, como escultor, para se dedicar por inteiro à luta de libertação do seu povo. Exemplo de vida vertical e de dignidade revolucionária que os 60 anos que nos separam do seu brutal assassinato não conseguem apagar, porque na memória da nossa luta colectiva o seu nome, a sua obra e a sua vida de "artista militante e militante revolucionário" nunca deixou de estar presente na luta que prosseguimos e que ele honrou com o seu trabalho", disse Jerónimo de Sousa.