O ex-secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou, este domingo, que o partido fez mais do que a sua parte para um diálogo à Esquerda, considerando que é necessário criar uma alternativa política num quadro que é complexo.
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“Nós fizemos mais do que a nossa parte”, disse Jerónimo de Sousa, quando questionado pelos jornalistas sobre se o partido deveria ter assumido um maior diálogo com as restantes forças de esquerda, antes do arranque do comício de hoje no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.
Para o futuro, o antigo secretário-geral do PCP acredita que primeiro será necessário constituir “a alternativa política, naturalmente, num quadro muito complexo”, face à situação que se vive no país. “Mas esta confiança inabalável não é discurso de comício, não é discurso de circunstância. É convicção profunda que isto não há de ser sempre assim e que, um dia, haveremos de ter um país melhor na luta pela democracia, na luta por mais salários, mais direitos. Se fizermos isso, já ganhámos a batalha”, afirmou.
Questionado sobre a atual liderança, Jerónimo de Sousa disse que “Paulo Raimundo é uma surpresa extraordinária”, recordando “aqueles preocupados” com a escolha, que anteciparam uma derrota do partido.
“Esta CDU faz falta a Portugal e é isto que estamos a tentar fazer, a afirmar. Naturalmente, isto não será uma reta, um caminho sem obstáculos”, disse o antigo líder comunista, que reafirmou por diversas vezes nas declarações aos jornalistas uma confiança no futuro, acreditando que “vale a pena continuar a persistir”.
Para Jerónimo de Sousa, o PCP está com “uma vontade muito grande de não virar a cara à luta, de não baixar a bandeira, de não fugir às dificuldades”.
Um partido com mais de 100 anos de história está “disposto a continuar a luta”, notou, vincando que o PCP está "na luta com coragem, com determinação, independentemente das dificuldades".
António Filipe quer "tirar o socialismo da gaveta"
“Não é da Constituição que temos de tirar o socialismo. Temos de tirar o socialismo é da gaveta em que o PS o meteu há muitos anos”, disse António Filipe, numa intervenção no comício comunista. O deputado recordava as declarações recentes do presidente da Iniciativa Liberal, que defendia que se deveria tirar o socialismo da Constituição, classificando Rui Rocha como um “dirigente de um dos partidos da extrema-direita, no caso, da fofinha”.
Para António Filipe, há pessoas que nunca se conformaram com a “Constituição de Abril”, que entende que todos os democratas têm o dever de defender. E para tirar o socialismo da gaveta, o deputado acredita que só os votos na CDU conseguirão que se “cumpra a Constituição com todos os direitos políticos, económicos, sociais e culturais que ela consagra”.
No discurso do deputado, não faltaram também críticas a Luís Montenegro, considerando que o melhor argumento para não votar na AD vem do próprio primeiro-ministro, quando pediu aos portugueses para olhar para os onze meses de Governo e imaginar o que faria se tivesse oito anos de governação.
“É mesmo por sabermos o que fizeram e por sabermos o que tencionam fazer que temos de os derrotar nas eleições”, disse, acusando a AD de querer privatizar o Serviço Nacional de Saúde e Segurança Social e de dar “borlas fiscais” às grandes empresas, depois de uma legislatura marcada por “urgências encerradas, escolas sem professores” e o aumento das desigualdades.
Mas António Filipe vincou ainda que a CDU também não se esquece do que o PS fez nos últimos onze meses: rejeitou a moção de rejeição do programa de Governo da AD, viabilizou o Orçamento permitindo “ao Chega e à Iniciativa Liberal continuarem a fingir que fazem oposição”, votou contra a moção de censura apresentada pelo PCP (após o caso da Spinumviva) e “suplicou ao Governo por todos os santinhos para retirasse a moção de confiança que o faria cair”.
Pedro Nuno "inspirou-se" em Raimundo
Recordando a intervenção de Pedro Nuno Santos no sábado, que falava do PS como um “porto seguro”, o deputado comunista lembrou que, meses antes, Paulo Raimundo tinha falado da CDU como um “porto seguro de firmeza e de coragem”. “Pedro Nuno Santos inspirou-se na expressão do porto seguro, mas falta-lhe o essencial: a firmeza e a coragem que só na CDU é possível encontrar”, disse, deixando recados ao PS: “o combate à extrema-direita não se faz só na oratória ou em ping-pongs verbais”.
O combate à direita, sublinhou, “não se faz debitando umas banalidades em nome de umas convergências imaginárias ou fazendo promessas à esquerda para depois convergir com a direita”.