O ministro das infraestruturas garantiu, esta sexta-feira, no Parlamento que não tenciona demitir-se após ter sido constituído arguido na operação Influencer. Antes disso, questionado pelos jornalistas, Galamba afirmou estar "de consciência tranquila" e pronto para "defender o Orçamento". Direita e BE teceram críticas.
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Na sua intervenção inicial, o ministro das Infraestruturas começou por defender que "o ano de 2024 é preponderante para o futuro do país" e que o Governo continua empenhado em reforçar ligações ferroviárias e rodoviárias. "Não avançar com projetos em curso ou adiá-los será atrasar o país em várias décadas", alertou.
Um dos projetos mais relevantes, notou, é a ligação de alta velocidade Porto-Lisboa cujo primeiro concurso para a primeira fase da empreitada deverá avançar no próximo ano. "O Governo continuará a avançar com todos os procedimentos para este projeto, que deverá receber um investimento europeu de 700 milhões de euros", frisou, realçando, contudo, que, em janeiro, o país deve candidatar-se ao programa "Connecting Europe Facility" para que não se percam as verbas.
Após a intervenção, o grupo parlamentar do PSD começou o período de interpelações ao ministro. O deputado Paulo Moniz mostrou "perplexidade" pelo facto de João Galamba estar no Parlamento tendo em conta as circunstâncias do inquérito criminal sobre o lítio e o hidrogénio verde. E questionou João Galamba se pondera demitir-se.
Antes do ministro responder, o deputado socialista Carlos Pereira pediu a palavra para contestar a intervenção. "A presença do ministro está enquadrada e a discussão é sobre o Orçamento de Estado", frisou Carlos Pereira.
Em resposta ao PSD, Galamba recordou que a constituição do Executivo é da responsabilidade do primeiro-ministro e afirmou que não tenciona apresentar a sua demissão. "A formação do Governo é competência do primeiro-ministro. Se me pergunta se eu tenciono apresentar a minha demissão: não, não tenciono", disse João Galamba.
Seguiu-se o PS. Antes de colocar as perguntas sobre o Orçamento de Estado, Carlos Pereira criticou o PSD que teve oito minutos para fazer perguntas e "fez um exercício que degrada as instituições". “Estamos cá para discutir OE”, frisou o deputado socialista, acusando o PSD de não querer discutir o Orçamento do Estado.
Na sua intervenção, André Ventura também questionou Galamba: "Tem condições políticas para debater o Orçamento de Estado?". O ministro das Infraestruturas responde que sim.
Já Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, apontou que "a multiplicação de casos" que têm vindo a público é "reveladora de dois grandes problemas políticos": "o excesso de peso que decisões subjetivas dos poderes políticos têm na vida das empresas e nos grandes investimentos" e "o excesso de tempo que o partido socialista passou no poder nos últimos 30 anos".
"A permanência prolongada de qualquer partido no poder semeia as sementes da erosão moral, tornando-se num terreno fértil para a corrupção. Tirar o PS do poder está longe de ser uma condição suficiente para reduzir a corrupção neste país, mas depois de tanto tempo no poder, nesta fase, é definitivamente uma condição necessária", destacou o deputado, considerando que a presença de Galamba no Parlamento é uma situação “constrangedora” para os deputados e para o próprio ministro.
O governante contrapôs: "Não é constrangedor para mim. Estou aqui a cumprir um dever. Tenciono responder às questões com dignidade. Não é constrangedor para mim defender um Orçamento que preparei e defendo”.
Também Isabel Pires, do Bloco de Esquerda, referiu que, para o partido, o ministro das Infraestruturas "não tem condições para ocupar o seu cargo".
Inês Sousa Real, do PAN, afirmou que a audição ao ministro das Infraestruturas não é uma comissão parlamentar de inquérito, nem um tribunal. Por isso, cinge as perguntas ao Orçamento do Estado. O Livre também não abordou o caso judicial em curso e o PCP recordou que o partido já tomou a sua posição sobre o assunto. Focou, por isso, a sua intervenção na discussão no Orçamento de Estado que considera "mau".
De recordar que João Galamba é um dos arguidos no processo relacionado com os negócios do lítio e hidrogénio verde. De acordo com informações recolhidas pelo JN, houve, pelo menos, duas refeições oferecidas por responsáveis da empresa Start Campus ao ministro João Galamba e ao presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, com o alegado objetivo de obterem decisões favoráveis ao megaprojeto do Data Center de Sines.