João Oliveira desafia juventude a fazer reflexão crítica sobre benefícios da União Europeia
O cabeça de lista da CDU às europeias desafiou, este domingo, a juventude a fazer uma reflexão crítica sobre os benefícios da União Europeia, questionando se todos os jovens europeus têm o mesmo acesso a programas como o Erasmus.
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Num discurso num comício organizado pela Juventude Comunista Portuguesa (JCP), em Setúbal, João Oliveira desafiou a juventude a "agir em concreto para que o mundo seja diferente, mais justo, contrariando o que de injusto chega pela mão da União Europeia".
O cabeça de lista da CDU disse que uma parte da juventude portuguesa hoje em dia "já só conhece a realidade de um Portugal integrado na UE".
"Parece que isto é tão natural como a nossa própria sede, que a UE faz parte da nossa vida diária e que ela está tão enraizada, que dali só vêm coisas boas", afirmou, referindo o caso do Erasmus, da moeda única ou da liberdade de circulação entre países.
No entanto, João Oliveira defendeu que é preciso perguntar "se isso é mesmo assim em condições de igualdade para todos os jovens, para todos os países que estão dentro da UE".
"Nós temos hoje as mesmas condições de vida para os nossos jovens que têm países mais desenvolvidos e as economias mais fortes da UE? (...) Não, não temos, nem na comparação com outros países, nem temos dentro do nosso país, comparando jovens que têm origens sociais e económicas e diferentes", respondeu.
O candidato considerou que "uma boa parte dessas dificuldades e injustiças" chegam pela UE e apelou aos militantes da JCP para que "puxem para o lado" da CDU "todos os jovens que são prejudicados por essas políticas".
João Oliveira abordou em particular a questão do Erasmus, perguntando em particular "se não há país fora da UE que estão também envolvidos" nesse programa.
"Vale também a pena, antes disso, perguntar quantos jovens portugueses não conseguem chegar hoje ao ensino superior, quanto mais ao Erasmus? E quantos jovens, mesmo chegando ao ensino superior, não podem aproveitar o programa Erasmus", perguntou.
Já relativamente aos que beneficiam do programa, João Oliveira defendeu que é preciso perguntar quantos, no regresso a Portugal, "não conseguem sair de cada dos pais, porque não têm um emprego estável, salários dignos, condições de habitação que lhes permitam tornar-se independentes".
"É esse questionamento que nós precisamos de ver na boca e ação da juventude, para que o caminho da juventude seja o do aprofundamento da democracia, o da construção de um Portugal mais democrático, desenvolvido e soberano, numa Europa de paz, progresso social e cooperação", disse, acrescentando que a "juventude é a primeira vítima da guerra".
Depois de João Oliveira, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, também fez um discurso dedicado à juventude, no qual acusou o Governo de "fazer anúncios atrás de anúncios", mas não responder aos problemas dos jovens.
"Esprema-se cada uma das medidas, descontemos o rol de intenções, tiremos os adjetivos e estrangeirismos, e o que sobra são redução de impostos para jovens que são uma minoria que ganham acima da média" e mais "dinheiro público como garantia aos bancos", criticou, acusando o Governo "de abanar muito mas andar pouco" ao serviço dos jovens.
Para Paulo Raimundo, "os jovens estão fartos" de ver com os seus olhos e sentir na pele "a injustiça e a desigualdade" e de não conseguirem alcançar a sua independência.
"É só conversa, e os jovens estão, e com razão, fartos desta conversa batida, bafienta e enganadora", disse.
Depois, o líder comunista recusou a ideia de que "são todos os iguais", salientando que "há demasiados iguais, que se vergam de forma igual às imposições da UE" e que têm "muita dificuldade e quase diria incapacidade de demonstrar diferenças entre eles".
"Há de facto isso tudo, e depois há a CDU, a força da diferença, que não se verga, que enfrenta os olhos nos olhos", disse.
Polémica sobre consultora privada serve para "desviar atenções"
O cabeça de lista da CDU às europeias considerou que a polémica sobre a consultora privada envolvida no plano de emergência para a saúde contribui para "desviar a campanha do que é essencial e central".
Durante uma arruada no centro de Setúbal, na qual esteve acompanhado pelo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, João Oliveira foi questionado sobre como é que vê a polémica entre o PS e o Governo relativamente à contratação de uma consultora privada para a elaboração do plano de emergência para a saúde anunciado na semana passada.
"Eu espero que os portugueses percebam que enredar a campanha eleitoral em questões como essas contribui para desviar aquilo que é essencial e central, nomeadamente as questões dos salários, das reformas, da saúde e da habitação", respondeu João Oliveira.
O candidato disse esperar que as pessoas não se deixem "desviar daquilo que é efetivamente central" e encontrem na CDU "não só a força que aponta uma política que lhes serve, mas que também faz a diferença na campanha eleitoral", tratando "daquilo que verdadeiramente interessa, e não fazendo da campanha uma época de piropos ou acusações estéreis".
Já interrogado se está preocupado com os problemas que estão a ser reportados relativamente ao voto em mobilidade, João Oliveira disse "esperar sinceramente que as pessoas decidam votar e votem mesmo".
O candidato salientou que, nestas eleições, "o voto é igual àquilo que sempre foi: é com caneta, um boletim de papel, e dá as mesmas razões de confiança que as pessoas sempre tiveram nas eleições".
Espero "que não se encontrem elementos para perturbar essa confiança que as pessoas têm de ter nas condições de exercício do voto. E, já agora, para que voto seja certo, é no quadrado que tem a foice e o martelo e o girassol ao lado", gracejou.
Questionado sobre o que a CDU tem feito para convencer indecisos, João Oliveira respondeu que se tem esforçado por "insistir nos problemas que mais dizem a cada um", designadamente "salários, reformas, saúde, habitação, o apoio à produção nacional e o desenvolvimento científico e tecnológico".
"Estamos que convencidos que os indecisos estão com muito tempo para se decidir e particularmente com condições para se decidirem pelos argumentos da CDU", disse.
Nestas declarações, João Oliveira foi ainda interrogado sobre o facto de o cabeça de lista da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, ter novamente insistido que o PCP e o Chega são partidos com muitas semelhanças.
"Em relação à IL, vou apenas dizer isto: não gastamos mais cera com ruído de fundo", disse, com Paulo Raimundo a comentar ao lado que a IL está "um bocadinho sem assunto".