Leonor Carretas, encenadora e Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho e cronista do JN, debateram os "labirintos" do jornalismo. É preciso tempo e meios, apelam. Porque "este jornalismo", o do JN, "não pode morrer".
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Leonor Carretas, a encenadora da peça "A Noite" de José Saramago (e que teve como elenco o Grupo de Teatro de Jornalistas do Norte para celebrar os 50 anos do 25 de Abril), diz ter aprendido "muita coisa" com os 14 jornalistas que participaram na peça. Além das semelhanças com a cultura no que diz respeito à precariedade, notou também a necessidade de cada um deles em falar sobre a própria profissão, nem que fosse na sombra do boato da peça, na noite de 24 de abril de 1974, de que "o jornalismo estava a morrer". Os jornalistas não falam sobre a profissão, nota Leonor, mas na peça falaram. Principalmente sobre o que podem fazer para evitar que isso aconteça. Foi quase "um grito de revolta".
Para Felisbela Lopes, professora na Universidade do Minho, "este jornal [o JN] é vital para a democracia", pelo papel que desempenha "na coesão do país que somos". Mas a agenda noticiosa, "circular", prejudica o setor e "deve entrar em rotura". O ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, salientou isso mesmo no debate anterior.
A professora considera o jornalismo como "um bem público em estado de emergência". Porque "é exigido muito em pouco tempo" aos jornalistas. "Todos nós sabemos que não é possível. Os jornalistas são interpelados a fazer muito em pouco tempo", acrescenta.
"Há uma relação muito estranha entre o tempo e o jornalismo. É preciso tempo para refletir e é bom ter diferentes tempos para fazer jornalismo", considera também Leonor Carretas, sugerindo um financiamento público dos órgãos de comunicação social.
As duas estiveram em debate na Casa da Música, no Porto, a propósito do aniversário do JN, que celebra 136 anos este domingo.
"Equilíbrio entre gerações"
Certo é que, sublinha Felisbela, "este jornalismo [o do JN] não pode morrer", mas sim continuar a contar histórias e equilibrar poderes. "Não sei se atualmente temos meios para sustentar este jornalismo. Devemos pensar, ao nível das políticas públicas, em formas de ajudar este jornalismo [e também a imprensa regional]", recomenda.
A professora da Universidade do Minho destaca ainda a importância de as redações criarem um "equilíbrio entre gerações mais jovens e mais maduras". "Tempo é importante e temos de ter redações mais bem sustentadas e com gerações mais diversificadas porque também precisamos de memória dentro das redações. Nem sempre o computador dá todas as respostas que queremos", aconselha a Felisbela Lopes.