Muitos não reconhecem ou consideram os comportamentos naturais. Nova campanha aposta em influenciadores digitais para chegar aos adolescentes.
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No início de cada aula, uma rapariga sentava-se e tirava uma selfie. Mais tarde, os professores viriam a perceber que o gesto não era sinal de vaidade, mas sim uma forma de provar ao namorado onde estava, tal como ele exigia. O episódio, relatado por uma professora à agora secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, é um dos vários exemplos de violência no namoro que urge combater e que motivam a campanha #NamorarSemViolência, lançada esta sexta-feira, dois dias antes do Dia dos Namorados.
Dados da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, mostram que 58% de jovens até ao 12.o ano de escolaridade reportam já ter sofrido pelo menos uma forma de violência. E 67% consideram naturais alguns desses comportamentos.
"A violência no namoro é um problema sério na adolescência, tendo repercussões a vários níveis na sua vida presente e na vida adulta", escreve a UMAR, que apresenta esta sexta-feira um estudo e também lança uma campanha para alertar e prevenir para a violência no namoro. Nesse estudo, realizado em 2020 a uma amostra de 4598 jovens com média de idades de 15 anos, percebeu-se que o controlo é "a forma de violência mais legitimada pelos(as) jovens".
A associação Plano i, que estuda a população universitária, revela que 53,8% de jovens já sofreram, pelo menos, um ato de violência no namoro. As análises das duas organizações apontam para a elevada prevalência e legitimação de formas específicas de violência como a psicológica, uma das exercidas através das redes sociais ou as atitudes de controlo (sobre vestuário e hábitos de convívio, etc.).
Insultos e proibições
"Há muitos comportamentos, como insultos, proibições de estar com pessoas, controlar o vestuário, obrigar a dar as passwords das redes sociais, ver mensagens do telefone, perseguir mandando permanentemente mensagens, que configuram formas de violência de namoro, mas nem sempre são reconhecidas pelos mais jovens como tal", explica Rosa Monteiro, indicando que as mulheres são a maioria das vítimas, "mais de 80%".
São números como estes que motivam a campanha #NamorarSemViolência, que conta com a participação do cantor Agir e de seis influenciadores digitais com forte presença nas plataformas mais usadas pelos jovens. A iniciativa conjunta, com especial enfoque no Tiktok e Instagram, visa alertar e consciencializar jovens para melhor identificarem e rejeitarem comportamentos de violência em relações de namoro, incluindo aqueles que são exercidos através das redes sociais.
A preocupação com a exposição ao digital tem vindo a crescer. A pandemia "aumentou em cerca de 70% o uso da Internet e, com isso, a evidência de mais riscos e exposição a novas formas de violência online", revela a Secretaria de Estado, apontando dados do Instituto Europeu para a Igualdade de Género.
Segundo Rosa Monteiro, "é fundamental darmos o passo que vai da rejeição simbólica da violência para a sua rejeição na vida e nos comportamentos concretos do dia a dia".
Campanha
A campanha #NamorarSemViolência conta com o cantor Agir e com os influenciadores Beatriz Rosa, Carolina Castelinho, Laura Mourinho, Madalena Aragão, Mário Lourenço e Miguel Luz. Vão alertar para os perigos da exposição online.
Linha de ajuda
A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género regista, desde o início da pandemia, 1696 pedidos nas linhas de apoio. Quem precisar de ajuda ou quiser denunciar situações pode ligar 800 202 148 ou enviar uma SMS para o 3060.
Webinar
Os dados do Estudo Nacional de Violência no Namoro, da UMAR, e do Observatório da violência no Namoro da Associação Plano i são apresentados esta sexta-feira, num webinar.