Duas jovens do Porto foram detidas, na manhã de segunda-feira, na Escola Secundária Pedro Nunes, em Campo de Ourique, Lisboa, por suspeitas da prática do crime de falsas declarações, informou o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP.
Corpo do artigo
Após saírem à noite, numa discoteca em Lisboa, as jovens, de 18 anos, deslocaram-se a uma escola "aleatória" e fizeram-se passar por outras raparigas, que não conheciam, para realizarem exames nacionais de Geografia A, do 11.º ano.
As raparigas, que frequentam o 12º ano numa escola no Porto, já estão em casa dos pais, mas foram sujeitas a uma medida de coação de termo de identidade e residência. Segundo uma familiar próxima de uma das jovens detidas, as duas amigas "apostaram que iam fazer um exame e entraram numa escola qualquer onde nunca tinham ido e não conheciam ninguém". "Na escola, chamaram pelo nome das outras alunas, que deveriam ter comparecido ao exame e elas confirmaram que eram elas. No cabeçalho do exame inventaram o nome completo das outras", conta ao JN.
De acordo com a mesma fonte, só uma das jovens tinha cartão de cidadão, e "ninguém na escola confirmou o nome delas antes do exame". "O que elas fizeram não é correto, mas a maior gravidade é constatar o que é possível fazer. Isto mostra que não há vigilância nas escolas", considerou ainda a familiar, que diz que uma das detidas "é aluna de quadro de honra e tem uma bolsa de estudo", que agora lhe poderá ser retirada na sequência da detenção. "Ela é muito responsável, foi pura brincadeira".
Segundo a familiar, poucos minutos depois de começar o exame, "uma das jovens sentiu-se mal disposta e acabou por admitir que não era a aluna verdadeira e terá sido aí que foi chamada a polícia". "Já a amiga dela esteve duas horas na sala, sem escrever nada no exame", acrescenta.
A PSP diz que foi "no momento da confirmação da identidade que as alunas afirmaram que não dispunham de cartão de cidadão" e "foi chamado um professor para atestar a identidade das alunas, confirmando-se que não eram as que estavam inscritas no exame e nem sequer eram alunas naquela escola".
De acordo com o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, "os polícias foram informados que duas jovens, durante a chamada para o exame, afirmaram tratar-se de alunas que estavam inscritas e faltaram, identificando-se usando o nome delas, tendo inclusive preenchido toda a parte respeitante à identificação dos mesmos com os dados das alunas faltosas". "Perante tais factos, os polícias perceberam de imediato que as agora detidas estavam a utilizar a identidade de alunas devidamente inscritas no exame nacional e que, supostamente, não compareceram à sua realização por opção pessoal e com conhecimento dos respetivos encarregados de educação", esclareceram ainda.
"Surreal"
Uma colega da aluna, cuja identidade foi falsificada, disse ao JN que ficou surpreendida quando foi contactada pela escola. "Ela estava a dormir quando lhe ligaram da escola e disseram-lhe que tinha de ir lá porque alguém se estava a fazer passar por ela. É normal inscrevermo-nos em exames e faltarmos, porque não precisamos deles para entrar na universidade, e foi esse o caso", explicou. Outra amiga confirmou. "Ela disse-me que foi um dia muito stressante e que depois falávamos, mas que não fazia a mínima ideia quem era a jovem que se fez passar por ela. Ela apenas faltou ao exame", garantiu. "Imagine que a outra (rapariga detida por falsificação) fazia o exame? A nossa colega ia ficar com aquela nota e nem ia perceber de onde vinha! Isto é surreal", acrescentou outra colega.
O JN tentou falar com a direção da escola, mas esta disse que "não presta declarações". O JN enviou ainda questões ao Ministério Público, mas não obteve resposta.