<p>O juiz-desembargador Eurico Reis afirmou hoje, quarta-feira, que a entrevista de Carlos Silvino em que este confessa ter mentido no processo Casa Pia "vale nada" e avisou que "o reality show acabou" e "não vai continuar na Relação".</p>
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Em declarações à Agência Lusa a propósito de uma entrevista publicada hoje na revista Focus a Carlos Silvino, em que este diz ter sido "obrigado a mentir" e garante que nunca abusou de nenhuma criança, Eurico Reis disse que estas afirmações nada valem e que se enquadram no "reality show" em que o processo Casa Pia se transformou, com "muito show e pouca realidade".
"Infelizmente, este processo começou tarde e torto", afirmou o juiz da Relação de Lisboa, para quem "as pessoas dentro do sistema judiciário não se souberam dar ao respeito, o que é mais grave quando há uma onda de destruição da autoridade dos juízes e também do Ministério Público".
Eurico Reis deixa um aviso: "As pessoas que cavalgaram estas ondas julgam que agora na Relação o reality show vai continuar, mas não. Parou".
"As pessoas vão perceber que podem dizer o que quiserem que os juízes vão decidir de acordo com a prova e não vão embarcar neste reality show", adiantou.
Relativamente ao teor de algumas das afirmações de Carlos Silvino, o juiz-desembargador sublinhou que se fossem ditas em tribunal, o então acusado "teria sido objeto de fortíssimo interrogatório por parte dos juízes".
Eurico Reis frisa que "declarações em jornais não têm qualquer conteúdo jurídico".
Em entrevista à Focus - realizada por um jornalista da revista, co-autor de um livro sobre Carlos Cruz e o processo Casa Pia, juntamente com a ex-mulher do apresentador de televisão, e de que a SIC passou terça-feira excertos em vídeo -, Carlos Silvino diz que mentiu em tribunal e que não conhecia os outros arguidos.
O julgamento do processo Casa Pia relativo a abusos sexuais de menores da instituição terminou, ao fim de quase seis anos, com um acórdão que condenou seis dos sete arguidos a penas de prisão e ao pagamento de indemnizações.
Carlos Silvino foi condenado 18 anos de prisão, Carlos Cruz a sete anos de prisão, igual pena foi aplicada ao médico João Ferreira Diniz, o embaixador Jorge Ritto foi condenado a seis anos e oito meses, Hugo Marçal a seis anos e dois meses, e Manuel Abrantes, ex-provedor adjunto da Casa Pia, a cinco anos e nove meses. Gertrudes Nunes, dona da casa de Elvas, foi absolvida do crime de lenocínio.