“Lamento a machadada que a classe docente sofreu na governação de José Sócrates”
Eduardo Carvalho termina em novembro carreira de 36 anos de professor. Sai com o sentimento de dever cumprido, mas acredita que vai ter saudade.
Corpo do artigo
Em novembro, quando tiver 65 anos e 11 meses de vida, o professor Eduardo Carvalho estará oficialmente reformado. Para trás deixará 36 anos de docência, maioritariamente no primeiro ciclo do Ensino Básico. Sai com o “sentimento de dever cumprido”, com mágoa por ter visto a desvalorização da classe durante as primeiras duas décadas deste século e com vontade de continuar a sentir-se útil em Vila Flor, onde vive.
Desde miúdo, Eduardo estudou em diversas vilas e cidades, e em vários contextos – um deles no Seminário dos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia – antes de decidir ser professor, embora, valha a verdade, já tivesse o caminho indicado desde o berço. Filho de professores e com vários outros familiares ligados ao ensino, o difícil seria não seguir as pisadas, até porque naquela época, dar aulas era bem-visto e uma autêntica autoridade.
Foi assim que no início da década de 1980 foi para Bragança estudar no Magistério, o tipo de ensino da altura de onde saíam formados para lecionar. Curiosamente, Eduardo Carvalho não foi logo dar aulas às crianças da escola primária. As competências que detinha permitiram que a sua estreia fosse com alunos dos 7.º, 8.º e 9.º anos, atual terceiro ciclo, aos quais deu aulas de Educação Visual e Desenho.
O problema é que o serviço militar obrigatório, que já tinha adiado para concluir a formação superior, não esperou mais e, em 1984, teve de ingressar no Regimento de Comandos da Amadora, rumando mais tarde ao Regimento de Infantaria de Chaves. Gostou tanto da tropa que quis lá ficar. Fez contrato com o Exército e passou a exercer várias funções nas unidades de Abrantes e do Porto. Após seis anos de farda vestida e com os galões de tenente nos ombros, abandonou.
Antes de regressar à docência na zona do Porto, ainda quis tentar outra sorte, desta vez no mundo da segurança. Foi inspetor de duas companhias entre 1990 e 1991. Pouco depois, já como professor a tempo inteiro, passou pelas escolas de Cabeceiras de Basto, Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo, Mirandela e Alfândega da Fé e Vila Flor, onde acaba a carreira.
Futuro
Olhando para trás, lembra anos maus. “Lamento a machadada que a classe docente sofreu na governação de José Sócrates”, sublinha. Mormente porque “os professores foram saqueados a vários níveis, nomeadamente o financeiro”. Foi isso que também contribuiu para que “muito poucos se interessassem pela profissão” nos últimos anos. Lamenta-o, pois agora volta a ver “futuro”. Futuro que não será o do filho mais velho, de 19 anos, já noutro rumo. Talvez ainda possa ser o do mais novo, de 15 anos. A certeza que tem é a de que “haverá cada vez menos professores na família”.
Em novembro, Eduardo Carvalho vai fechar uma etapa da sua vida, e assume que vai ter “saudades”, mas não vai querer manter-se sentado num banco de jardim a ver a vida passar. Vai querer ensinar na Universidade Sénior de Vila Flor, integrar projetos que ajudem a desenvolver o concelho e manter-se ligado à vida partidária. Atualmente é deputado do PSD na Assembleia Municipal.