Elsa, mãe de Duarte, transformou a preocupação em ação. A turma do 1.º ano do filho acolheu os “Heróis da Fruta”. E a semente ficou nos mais novos
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Atenta ao ambiente escolar, Elsa apercebeu-se de que havia casos de obesidade e pré-obesidade infantil entre os colegas de turma do seu filho Duarte, que entrou para o 1.º ano em setembro passado. Também ela conhece o que é viver com a obesidade em idade escolar. “Conheci de perto o bullying na escola devido à obesidade, e sempre me preocupei para que existisse autoestima e uma alimentação equilibrada em casa”, conta.
Embora os seus filhos não tenham excesso de peso, a encarregada de educação, de 48 anos, decidiu transformar a preocupação em ação na escola. Foi então que desafiou a diretora de turma a aderir ao projeto “Heróis da Fruta”, algo que, felizmente, já estava em preparação para esse ano letivo. “Fiquei muito satisfeita, foi juntar o melhor de dois mundos”, afirma.
Durante quatro semanas, Duarte, de seis anos, e os colegas participaram num conjunto de atividades extracurriculares centradas na promoção de hábitos alimentares benéficos, para incentivar lancheiras mais saudáveis, com a ingestão da quantidade diária de frutas e hortícolas recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Os conhecidos “cinco ao dia”. “Decidiram que, além da fruta, tinham de trazer um abraço”, recorda Elsa.
A nível nacional, a iniciativa tem ganho cada vez mais expressão. “Desde que foi implementado [em 2011], que o projeto já chegou a milhões de crianças do Pré-Escolar e do 1.º Ciclo em escolas de todo o país. Todos os anos letivos trabalhamos com 80 a cem mil crianças. E tudo isto é conseguido à conta do esforço da sociedade civil, de se organizar para fazer a diferença”, sublinha Mário Silva, presidente da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI), que promove o projeto.
Os resultados estão à vista: na última edição, durante o ano letivo 2023/2024 – que contou com a participação de mais de 79 mil alunos de 70% dos municípios –, verificou-se um aumento de 12,9% no consumo diário de frutas e hortícolas, mesmo em contextos onde não havia acesso gratuito a estes alimentos. Mais de metade das crianças (52,8%) experimentou, pela primeira vez, alguma fruta ou hortícola.
Não é só maçã
No caso de Duarte, diversificar um pouco mais a alimentação foi a principal meta. Apesar de gostar de fruta, a única que consumia era maçã. “Com o projeto, começou a experimentar novas frutas, embora tenha de dizer que o kiwi não foi uma fruta vencedora”, partilha a mãe. E os legumes tornaram-se protagonistas: “Não é muito habitual as crianças pedirem brócolos ou comerem alface como aperitivo, mas cá em casa são imprescindíveis”.
O projeto incluiu ainda sessões de leitura para ajudar a trabalhar a literacia emocional nas crianças. Para Elsa, “quanto mais cedo formos capazes de conversar sobre obesidade com naturalidade, mais fácil é promover a saúde física e também a saúde mental”.
Apesar de a iniciativa ter terminado, a semente ficou em cada criança dessa turma do 1.º ano. E, para o Duarte, os super-heróis que existem não são os dos desenhos animados, “são os Heróis da Fruta”.