Opções diferenciadoras têm conseguido resistir à doença. Segurança Social quer aumentar lugares nas instituições e qualidade dos serviços. Quem inovar, terá mais apoios do Governo.
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Entre os cerca de 2500 lares que existem em Portugal - os espaços que têm sido mais afetados pela pandemia -, há uma minoria que inova nas respostas à população idosa e tem conseguido fintar a covid-19. A pandemia forçou o país a olhar para a situação que se vive nas instituições dedicadas à terceira idade e o Governo decidiu aumentar os apoios a quem tiver respostas diferentes.
Muitos lares tradicionais são "depósitos" de idosos, lamenta o padre Domingos Costa, que tem dedicado os últimos 30 anos da sua vida a construir a aldeia de São José de Alcalar, em Portimão, para dar outras opções aos mais velhos. As 115 pessoas que atualmente habitam as 52 moradias têm alguma mobilidade e dispõem de diversos serviços, como lavandaria, cabeleireiro, biblioteca, fisioterapia e café, para as auxiliar no quotidiano. Para concretizar este "sonho", que foge à norma, o padre lutou contra "muitos problemas". Mas os idosos têm "direito a uma vida digna" e era preciso aquele lugar onde "são livres sem estarem isolados e desamparados", defende.
"Alguns lares são quase como hospitais de cuidados continuados, porque os utentes são muito dependentes. Mas fazem falta outras respostas", explica José Carlos Arede, da associação Os Pioneiros, em Mourisca do Vouga, Águeda, que há anos promoveu a construção de pequenas casas, instaladas junto ao lar da instituição, para 19 utentes com maior mobilidade. O projeto "ainda não é aceite pela Segurança Social, por isso não temos comparticipação", lamenta. Mas é para continuar, porque, ali, diz, os idosos "são felizes".
Artistas entreajudam-se
Na Casa do Artista, em Lisboa, a instituição que acolhe profissionais do meio artístico tem conseguido manter as pessoas motivadas e empenhadas em atividades que são do seu gosto pessoal, até porque "não estão desenraizados do meio em que trabalharam toda a vida. Muitos conhecem-se pessoalmente e entreajudam-se", explica Manuela Maria. E já há outras classes profissionais que lhes pediram informações.
Na Casa dos Pais, uma residência geriátrica no Porto que tem apoio médico, estimulação cognitiva, cabeleireiro, restaurante e diversas atividades lúdicas, "há um esforço constante para estimular", que tem dado resultados positivos, conta Margarida Faria. "Insistimos muito e alguns são hoje menos dependentes do que quando chegaram", diz.
Estas instituições não descuram a prevenção e têm conseguido escapar às mortes por covid-19, asseguram os responsáveis.
Mais apoio para inovar
O Governo criou um grupo de trabalho para rever a legislação em vigor. No Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) 3.0, com uma dotação de 110 milhões de euros, aumenta a percentagem do financiamento público de 70% para 75%. E prevê "uma majoração (para atingir os 80%) para respostas sociais inovadoras, dando aqui um primeiro passo para a reestruturação do modelo de respostas que hoje existe", referiu ao JN o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
O programa prevê a criação de novos lugares, a realização de obras de adaptação, ampliação, reabilitação de edifícios, bem como a aquisição de edifício ou fração para o desenvolvimento de respostas sociais. O objetivo "é aumentar o número de lugares e também a qualidade das infraestruturas e da intervenção".
Em Portugal continental, há 2520 estruturas residenciais para pessoas idosas (lares), que têm 99 mil lugares. A maioria está sob alçada de instituições sociais e 847 pertencem à rede lucrativa, sem acordos de cooperação, avançou o Instituto da Segurança Social. Atualmente estão em vigor 1673 acordos de cooperação, que abrangem 66 200 utentes. Em 2019, os apoios custaram 323 milhões de euros. Este ano aumentaram 5,5%.