Legislativas, mas não só. Saiba quais são os desafios de Pedro Nuno no curto prazo
"Agora é a nossa vez", afirmou Pedro Nuno Santos, este domingo, no encerramento do congresso do PS. Terminados os trabalhos, é tempo de o novo secretário-geral socialista deitar mãos à obra. Para além das eleições legislativas, Pedro Nuno enfrenta vários outros desafios no curto prazo. O JN resume quais são.
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Incluir apoiantes de Carneiro nas listas de deputados
Elaborar as listas de deputados é a primeira tarefa do novo secretário-geral do PS e José Luís Carneiro, o seu adversário na disputa interna, voltou a fazer o aviso no sábado: colocará a sua "mobilização e empenho" ao serviço da liderança de Pedro Nuno Santos mas, em troca, quer que as listas de candidatos a deputados também reflitam a força que a sua candidatura provou ter nas urnas. As listas, apurou o JN durante o congresso, serão entregues a 29 de janeiro.
Em declarações exclusivas ao JN, Carneiro frisou: “É importante que esta unidade com respeito pela pluralidade do partido esteja presente nos órgãos internos do PS e que, agora, haja esse diálogo, para que essa pluralidade se faça sentir na composição das listas de candidatos à Assembleia da República”.
Para já, a unidade foi alcançada na candidatura aos órgãos internos, para os quais houve uma lista única à Comissão Nacional que agregou as várias sensibilidades do PS e foi aprovada com 90,78% dos votos: alguns notáveis do partido, como o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, os ministros Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva ou o líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias, foram incluídos na lista por indicação de Carneiro, que pôde escolher 35% dos nomes. Encabeçada por Francisco Assis, na lista seguiam-se Alexandra Leitão e José Luís Carneiro.
Fazer programa eleitoral
O PS vai apresentar o seu programa eleitoral no início de fevereiro, apurou o JN. Também aqui José Luís Carneiro exige dar o seu contributo, tendo já garantido que o autor da sua moção interna, André Moz Caldas, irá ajudar Alexandra Leitão – que fez a moção de Pedro Nuno - a elaborar o documento com que os socialistas se apresentarão a votos no doa 10 de março.
Para já, Carneiro conseguiu pôr Pedro Nuno, conotado com a ala Esquerda do PS, a falar da importância das “contas certas” em todos os discursos que faz. O ainda ministro da Administração Interna propõe “a dedução de parte dos custos com os juros dos empréstimos à habitação em sede de IRS”, bem como uma reforma da justiça.
No plano geral, as moções de Pedro Nuno e Carneiro tinham poucas divergências profundas. Uma das que ainda existirão diz respeito ao chamado “fundo Medina”, que visa criar uma provisão de capital para investimentos estruturantes após o fim do PRR, em 2026: o candidato derrotado deseja manter esse projeto, o secretário-geral tem torcido o nariz.
Ganhar regionais dos Açores para ser rampa de lançamento
É o primeiro desafio eleitoral de Pedro Nuno Santos enquanto secretário-geral, antes mesmo das legislativas. A 4 de fevereiro, o PS tentará recuperar o Governo Regional dos Açores, que perdeu, em 2020, depois do PSD ter feito um acordo com vários partidos à Direita, incluindo o Chega. Tendo em conta que os resultados terão, forçosamente, uma leitura nacional – devido à proximidade das legislativas e, também, às soluções de governabilidade que serão encontradas -, o líder socialista quererá fazer deste ato eleitoral uma rampa de lançamento para as eleições de 10 de março.
Gerir o pós-legislativas: nova geringonça à vista? E em que moldes?
Pedro Nuno Santos nunca escondeu o seu apreço pela geringonça – que, em 2015, ajudou a criar; mas, desde que anunciou a candidatura à liderança do PS, também nunca se comprometeu em reeditá-la. No discurso de sábado, disse ambicionar ganhar "as regionais [dos Açores], as europeias, as autárquicas e as presidenciais", omitindo as legislativas. Ou seja, deu a entender que poderá tentar formar governo, mesmo se o PSD vencer o sufrágio, se houver uma maioria de Esquerda no Parlamento.
Nesse mesmo dia, à SIC, desvendou aquele que era um segredo mal guardado: questionado sobre se reeditará a geringonça caso o PS fique em segundo nas eleições, respondeu: “não nego a experiência recente do PS, antes pelo contrário”.
Pedro Nuno tem recusado viabilizar um eventual governo minoritário do PSD, argumentando que, se o fizesse, o Chega tornar-se-ia a única "válvula de escape" do descontentamento social. Resta saber se, caso o PS vença as legislativas, a Esquerda consegue a maioria dos lugares no Parlamento: no lançamento do congresso socialista, o politólogo Viriato Soromenho-Marques lembrou ao JN que a situação atual de PCP e BE "não é muito famosa".
Mesmo que haja maioria à Esquerda, as negociações não se adivinham fáceis. Uma vez que os resultados eleitorais de comunistas e bloquistas sofreram uma erosão desde a primeira geringonça, em 2015, ambos deverão vender mais caro o seu apoio parlamentar ao PS.
Europeias: encontrar cabeça de lista e manter tradição de vitória
Estão marcadas para o início de junho, ou seja, três meses após as legislativas. Pedro Nuno não está numa posição fácil: o PS venceu as duas últimas europeias e tem vindo a subir há três seguidas – elegeu consecutivamente sete, oito e nove eurodeputados. Além disso, o PS venceu cinco das oito eleições europeias que já tiveram lugar em Portugal.
Desgastados por oito anos de governação, há o risco de os socialistas serem castigados nas urnas. Acresce que, sendo as europeias vistas como menos preponderantes, a pressão para o chamado voto útil é menor – o que, em teoria, também não ajuda o PS.
A escolha de um cabeça de lista mobilizador é um dos desafios a que Pedro Nuno Santos terá de responder no curto prazo. Para já, no congresso, apenas apontou a um outro ato eleitoral, mais longínquo: garantiu que, em 2026, o PS apoiará um candidato, “como há muito tempo não faz”.