Concelhos tentam voltar à normalidade um mês após o Leslie. Autarcas têm avançado com obras enquanto aguardam pelo financiamento.
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O furacão Leslie passou há um mês e ainda há marcas na Região Centro. Os municípios mais afetados continuam a fazer contas aos prejuízos (superam os 100 milhões de euros) e tentam, aos poucos, voltar à normalidade com os fundos municipais disponíveis, enquanto esperam pelo financiamento estatal, revelaram ao JN os presidentes das câmaras de Montemor-o-Velho e Soure, Emílio Torrão e Mário Jorge Nunes, respetivamente, que entregaram a relação de estragos em edifícios públicos e privados poucos dias depois da tempestade.
Em Montemor-o-Velho, ainda só foram adjudicados 400 mil euros para obras municipais, num concelho que teve prejuízos totais superiores a 23 milhões de euros, entre 11,5 milhões do levantamento feito pela autarquia e mais de 10 milhões na agricultura (ler ficha). "Contabilizamos 45 edifícios afetados e já avançámos com algumas obras municipais. Os restantes trabalhos têm sido feitos por particulares e pelas verbas já pagas pelas seguradoras", aponta ao JN o presidente da Câmara de Montemor. "Já entregámos o levantamento dos prejuízos, aguardamos a concretização dos apoios", revela. A maior preocupação de Emílio Torrão tem a ver com o setor empresarial, uma vez que "ainda há empresas com problemas de laboração", um mês depois da passagem do furacão.
Falta de comunicações
A Figueira da Foz foi dos concelhos mais afetados pelo "Leslie", tendo os prejuízos ultrapassado os 38 milhões de euros. A Câmara já adiantou as obras nas coletividades e associações, orçadas em 1,6 milhões de euros. Foi também acionado o seguro do município, estando a ser feita a avaliação dos prejuízos, e houve um "reforço imediato das dotações orçamentais em mais de dois milhões de euros para fazer face aos danos que carecem de intervenções urgentes". O vice-presidente, Carlos Monteiro, já admitiu que vai levar muito tempo até o concelho voltar ao normal.
Ainda há zonas sem comunicações. Torrão diz que Arazede é a sua maior preocupação, havendo outros locais onde o serviço é intermitente. O edil de Soure revela que também ainda há zonas no concelho onde as comunicações não foram totalmente restabelecidas, como em Vinha da Rainha.
"Estamos a voltar à normalidade, mas ainda esperamos o financiamento para coletividades e infraestruturas municipais", descreve Mário Jorge, ressalvando que há uma verba de 1,6 milhões de euros do Fundo de Emergência Municipal para as primeiras intervenções. "Nos casos particulares foram acionados os seguros e as empresas do concelho estão já todas a laborar", disse ao JN.
Prejuízo com o milho pode chegar aos 15 milhões
A tempestade arrasou a produção de milho no Vale do Mondego. A previsão apontava para um mínimo de 10 milhões de euros, podendo chegar aos 15 milhões se o tempo não melhorasse nas semanas seguintes. O pior cenário confirmou-se com a chuva, permitindo que apenas cerca de metade da colheita tivesse sido efetuada. "Os prejuízos podem chegar aos 15 milhões de euros se a chuva não parar nas próximas duas semanas", diz José Armindo, explicando que "duas horas de chuva por dia são o suficiente para impedir a colheita do cereal".
Candidaturas para a agricultura
Os agricultores afetados pelo furacão podem candidatar-se, até 15 de dezembro, a apoios por parte do Ministério da Agricultura. O Governo disponibilizou uma verba de 15 milhões de euros para o setor.
Números
100 milhões de euros foi o montante dos prejuízos causados pelo "Leslie" no Centro, sendo mais afetados os distritos de Coimbra e Leiria.
176 quilómetros/hora foi a rajada mais elevada ocorrida em Portugal, às 22.20 horas do dia 13, na Figueira da Foz. A tempestade provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados. Registaram-se 2495 ocorrências.