Cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto descobriram o primeiro mamífero capaz de regenerar o seu Sistema Nervoso Central. Esta revolucionária descoberta abre caminho para o tratamento de paralisia dos membros em humanos.
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Até agora, não se conhecia nenhum mamífero capaz de regenerar o Sistema Nervoso Central. Após sofrer uma lesão na espinhal medula, o ratinho espinhoso africano é capaz de regenerar e recuperar a mobilidade.
"Havia já conhecimentos de que o ratinho espinhoso africano regenera feridas na pele, orelhas e tecido muscular", revelou ao JN Mónica Sousa, a investigadora que liderou o estudo. O laboratório do i3S a que pertence, que se dedica ao estudo de lesões medulares, decidiu investigar essa característica do animal, pelo que entrou em "contacto com colegas da Universidade do Algarve, que possuem colónias" dessa espécie.
A investigação desenvolvida durante quatro anos revelou que o ratinho espinhoso africano, de nome científico Acomys cahirinus, volta a recuperar a mobilidade após uma lesão na espinhal medula. A equipa constatou um mecanismo muito especial desconhecido noutros mamíferos. Em causa está a capacidade relacionada com a sua biossíntese, que forma proteínas com uma assinatura de açúcares específica, que permite a regeneração de lesões, explicou a cientista.
O Acomys cahirinus desenvolve "um tecido pró-regenerativo sem cicatrizes no local da lesão, que é mais transponível e ativa a produção de uma enzima, a β3gnt7, que funciona como um potenciador do crescimento de axónios", lê-se em comunicado. Nos restantes mamíferos não se verifica essa capacidade.
Contudo, o estudo "é a ponta do icebergue", disse Mónica Sousa. "Todas as análises feitas nesses animais foram feitas dois meses após a lesão, tendo-se verificado que o mecanismo de cicatrização já aconteceu. Falta-nos estudar momentos mais próximos da ocorrência da lesão para ver quanto tempo levam a recuperar", afirmou.
Sendo "a primeira vez que se verificou que um mamífero tem a capacidade de regenerar e é uma espécie próxima dos humanos, podemos antecipar e conhecer o mecanismo que poderá no futuro modificar um humano com uma lesão, dando-lhe a capacidade de adquirir propriedades regenerativas", prosseguiu a cientista.
Mónica Sousa disse que o artigo publicado na revista "Developmental Cell" irá "chamar a atenção da comunidade científica que trabalha na área e mostrar que existe um novo modelo que não é suficientemente explorado, aumentado o interesse" sobre este.
O estudo teve o apoio financeiro inicial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Wings for Life.