Letreiros antigos que anunciam farmácias, bancos, lojas de eletrodomésticos, cafés, fábricas, espaços culturais, residências ou até companhias de seguros. Para Nuno Dias, designer gráfico de 39 anos, há beleza e história nas palavras que se encontram cravadas em tantas fachadas das ruas da cidade. Por isso, em 2016, lançou o projeto "Letras de Braga".
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O "Letras de Braga" nasceu com o objetivo de catalogar e documentar todo o património visual, inspirado noutros projetos que já existem no país e no estrangeiro.
O livro da designer italiana Louise Fili, "Graphique de la rue: the signs of Paris", foi o ponto de partida para começar a aventura. "A obra tinha somente fotos de letreiros de Paris, tudo focado na tipografia e elementos gráficos", refere Nuno Dias, para explicar o início do projeto, que arrancou nas redes sociais, mas sempre com a ambição de, mais tarde, se materializar num livro, algo que espera que aconteça em breve.
"A ideia é tentar imortalizar a nossa história gráfica, porque tende a desaparecer. Hoje em dia, este património está seriamente ameaçado, devido à gentrificação e ao planeamento das nossas cidades", lamenta o designer.
E aponta o aparecimento de cadeias internacionais, centros comerciais, vendas online "e todas as teorias de limpeza urbanística" como consequências da perda destes letreiros que, considera, "definiram as cidades e as nossas vidas".
Quando partilhei estas fotos, as reações foram incríveis. Desde netos que se lembravam de brincar nas lojas dos avós, a pessoas que se recordavam do cabeleireiro que frequentavam
As mensagens que vai recebendo nas redes sociais, onde tem milhares de seguidores, confirmam que há imagens que fazem parte da memória coletiva. Mas o caso mais paradigmático surge em tempo de pandemia, quando decidiu partilhar o trabalho do fotógrafo Jorge Lens, um espanhol que, em 2005, visitou Braga e teve a mesma ideia.
"Quando partilhei estas fotos, as reações foram incríveis. Desde netos que se lembravam de brincar nas lojas dos avós, a pessoas que se recordavam do cabeleireiro que frequentavam", descreve, sublinhando que esse momento serviu de inspiração para alargar o projeto e, além de fotografias aos letreiros das fachadas, passou a resgatar peças que estavam guardadas.
A primeira conquista foi chegar às míticas letras do "Foto Espaço", que coloriu a Rua de São Marcos durante longos anos. Atualmente, tem na garagem três peças físicas, mas em fotografia já conta com mais de 200 registos