O líder da IL acusou hoje a AD de ter “trazido instabilidade” ao país e defendeu que é preciso “mudar o seu comportamento”, apelando ao voto no seu partido para trazer “reformas, mudança” e “responsabilidade à política portuguesa”.
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Em declarações aos jornalistas no Mercado da Vila, em Cascais, Rui Rocha disse que a IL é “muito clara” quanto a entendimentos pós-eleitorais, reiterando que há partidos com os quais rejeita qualquer acordo – numa referência a PS e Chega – e “há uma coligação com quem é possível” haver entendimentos, aludindo à AD.
“Não é um entendimento a qualquer preço, não é um entendimento para ficar tudo na mesma, não é um entendimento para empurrar os problemas do país com a barriga ou para trazer instabilidade, porque a AD trouxe instabilidade. Portanto, é preciso mudar o comportamento da AD, é preciso puxar a AD para esse espírito reformista e para esse compromisso”, disse.
Instantes depois de, em Arcos de Valdevez, o presidente do PSD, Luís Montenegro, ter dito que “o único voto útil à estabilidade é o voto na AD”, Rui Rocha afirmou que o país “bem viu a estabilidade que a AD trouxe aos portugueses no último ano”.
“Depois de formarem Governo, pouco mais de um ano decorrido, cá estamos em eleições. Se é essa a estabilidade que Montenegro tem para oferecer aos portugueses, parece-me bem pouca e, portanto, eu desafio mesmo os portugueses a procurem outras soluções de voto que tragam, por um lado, reformas e mudança e tragam, também, responsabilidade à política portuguesa”, disse.
Contra um país "sistematicamente adiado"
Numa visita em que ouviu várias promessas de voto na IL, e alguns pedidos para que se coligue com a AD, Rui Rocha cruzou-se com António, comerciante, que lhe disse que os filhos vão votar nele, mas ele próprio tem dúvidas, porque tem “medo da mudança”. Questionado sobre como é que tenciona convencer essas pessoas reticentes a novas soluções governativas, Rui Rocha respondeu: “Dizendo-lhes que a mudança é absolutamente necessária, sobretudo para os filhos dele”. “Nós não podemos ter um país sistematicamente adiado, que passa décadas a não tomar as decisões necessárias, que olha para os problemas da habitação e não tem coragem de tomar as medidas necessárias”, disse.
Depois de, na semana passada, na feira de Viseu, ter recomendado à esquerda que comprasse cenouras para ganhar vitaminas, Rui Rocha levou hoje um quilo de cenouras do mercado, aproveitando para deixar ‘farpas’ ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, que tem advertido que uma governação da AD e IL seria uma “mistura explosiva”.
“A Esquerda tem tido alguma falta de vitamina, está descolorida nesta campanha e eu creio que precisamos de um debate democrático. Não pode ser só um debate pelo medo, o que tem faltado neste debate do lado da esquerda são propostas”, disse.
Abordando diretamente as críticas de Pedro Nuno Santos, Rui Rocha considerou que os “ataques sucessivos” do secretário-geral do PS se “baseiam em falsidade, no medo e em mentiras” e são “a confissão de uma derrota anunciada”.
“Pedro Nuno Santos está a anunciar ao país a derrota da esquerda nas próximas eleições. E, portanto, derrotada a esquerda, por si própria, pela sua falta de capacidade de trazer soluções para o país e pelo seu próprio discurso, este é o momento decisivo. É o momento de os portugueses escolherem, dentro das opções que podem trazer uma solução de governação ao país, pela mudança, pelas reformas”, disse.
Investimento na Defesa poderá trazer "mais riqueza ao país"
Em declarações aos jornalistas durante a visita ao Mercado da Vila, em Cascais, o líder da IL foi questionado sobre como é que prevê enquadrar um eventual aumento das despesas em Defesa e, na resposta, disse que se esse investimento for “bem feito, fazendo participar a academia, as empresas, poder ser uma enorme oportunidade” para Portugal ter maior crescimento económico.
“Para termos emprego qualificado e tecnológico em Portugal para os jovens que, neste momento, estão a abandonar o país porque não encontram soluções e, portanto, é um investimento que se pagará seguramente a si próprio e, mais do que isso, trará vantagem ao país no futuro”, disse.
Questionado se esse investimento não será feito em detrimento do setor social, Rui Rocha garantiu que não, reiterando que, se for bem feito, criará condições para “haver mais riqueza no país”. “Por isso, não só não põe em causa a dimensão social que o Estado tem de assegurar, como poderá criar condições para um crescimento económico que reforce essa capacidade de intervenção do Estado onde é necessário”, disse.
Defende reconhecimento da Palestina se interlocutor não for o Hamas
Rui Rocha foi ainda questionado sobre qual é a posição da IL relativamente à imposição de sanções a Israel, depois de, esta terça-feira, Telavive ter ameaçado entrar “com toda a força” na Faixa de Gaza. “Nós exigimos o completo respeito dos direitos humanos em todas as circunstâncias e para todas as partes. É uma posição de princípio, aplica-se a todos e é a todos que deve ser aplicada. Exigimos isso”, disse Rui Rocha, sem responder diretamente quanto à imposição de eventuais sanções a Israel.
Já interrogado se a IL defende o reconhecimento do Estado da Palestina, Rui Rocha indicou que a posição do seu partido sobre essa matéria “é clara”. “Nós defendemos a solução dos dois Estados, mas, do lado palestiniano, tem de haver um interlocutor, tem de haver quem tenha a capacidade diplomática para negociar e isso exclui, desde logo, situações em que temos associações terroristas do lado palestiniano”, referiu.
Para Rui Rocha, “é preciso resolver esse ponto do lado palestiniano e avançar tão depressa quanto possível para a solução dos dois Estados, mas com interlocutores do lado palestiniano credíveis e com quem se possam fazer negociações”.