O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, irá convocar o Conselho Nacional do partido e refletir sobre a realização de um congresso extraordinário. A decisão foi comunicada durante a reunião da comissão política nacional, ocorrida na madrugada de quinta para sexta-feira, e na qual o líder democrata-cristão terá deixado claro que só sairá do cargo se e quando o entender. Ontem, demitiram-se mais quatro dirigentes.
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No fim do encontro, que decorreu por videoconferência, a Direção do CDS informou a Lusa que "o presidente do partido decidiu solicitar a convocação de um Conselho Nacional". A agência cita fontes que garantem que Rodrigues dos Santos coloca duas hipóteses: ou admite "que está na hora de partir" e convoca um congresso, ou tenta reforçar a sua posição.
O líder terá também informado que ficará em reflexão até segunda-feira. A maioria dos presentes na reunião mostrou-se contrária à realização do congresso mas, no partido, há cada vez mais vozes a pedi-lo. A acontecer, ocorrerá via online e num prazo de cerca de dois meses, apurou o JN.
demissões e desfiliações
Já depois da comissão política nacional, houve quatro demissões no CDS. Duas foram de vogais desse mesmo organismo: Paulo Cunha Almeida e José Carmo. As outras - José Duque e Tiago Leite - envolveram membros do gabinete de estudos do partido.
Na quinta feira, tinha havido outras três demissões, uma delas do vice-presidente Filipe Lobo d"Ávila. As outras foram de Raul Almeida e Isabel Menéres, vogais da comissão executiva.
Segundo apurou o JN junto de fonte destacada do CDS, há militantes a temer pela sobrevivência do partido. O facto de a direção ter admitido convocar um congresso estará a fazer com que cada vez mais democratas-cristãos acreditem que essa é a única via possível.
Tudo isso ocorre num contexto de desmobilização generalizada. Tem havido inúmeras demissões em estruturas concelhias e distritais, bem como autarcas do CDS a informarem que pretendem concorrer como independentes às eleições de setembro/outubro, garantiu a mesma fonte. "É um partido sem lei e ordem", acrescentou assumindo ter cada vez mais dúvidas sobre a competência e a maturidade de Rodrigues dos Santos. Entre as críticas está ainda a excessiva preocupação do líder com o "controlo interno" do CDS, em prejuízo dos destinos do país.
O ressurgir da contestação a Rodrigues dos Santos - eleito em congresso há um ano e com mandato até 2022 - foi espoletado por um artigo de Adolfo Mesquita Nunes, publicado no Observador na terça-feira.
O antigo deputado do CDS diz que, se o partido mudar agora de líder, "ainda vamos a tempo de autárquicas". O presidente democrata-cristão respondeu que "mal seria" se o partido que dirige "navegasse ao sabor de um artigo de opinião". Na reunião da comissão terá reforçado que só sairá quando entender, disseram à Lusa fontes presentes no encontro.
Certo é que o texto de Mesquita Nunes já teve várias consequências internas. Além das sete demissões em dois dias, também levou a deputada Ana Rita Bessa a pedir um "novo ciclo" no partido: "Se esse ciclo passar pelo Adolfo Mesquita Nunes, não terei dúvidas em acompanhá-lo".
Na quinta-feira, Nuno Melo defendeu, na RTP2, que Rodrigues dos Santos "deixou de ter condições" para continuar à frente do CDS. O eurodeputado argumentou que o partido está "dividido" e que poderá, em breve, ter de "lutar pela sobrevivência".
Iniciativa Liberal pisca o olho a Mesquita Nunes
Antigo deputado do CDS e secretário de Estado do Governo de Passos Coelho, Adolfo Mesquita Nunes tem vindo a acolher a simpatia da Iniciativa Liberal (IL) - e, em particular, do ex-líder Carlos Guimarães Pinto. Em 2020, este afirmou que apoiaria Mesquita Nunes para a presidência.
Já este mês, ambos anunciaram a criação do Instituto +Liberdade, que promoverá o liberalismo económico. "O lugar de pessoas como Mesquita Nunes já não é no CDS", disse Guimarães Pinto ao Observador. O JN contactou o militante centrista, que não quis prestar declarações.