Lídia Jorge viveu o 25 de abril entre o receio e a alegria
A escritora Lídia Jorge estava à porta do Liceu Pero d' Anaya, na cidade da Beira, em Moçambique, quando soube do 25 de Abril. "Eu dava aulas de Português e de Francês e, nesse dia, à saída, contaram-me que se passava qualquer coisa em Portugal", recordou ao JN.
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Lídia Jorge não ficou totalmente surpreendida. "Na altura, eu estava relacionada com o ambiente militar porque era casada com um oficial paraquedista. Lembro-me que havia uma grande tristeza entre os militares mais próximos, ainda mal refeitos daquilo a que chamavam a intentona das Caldas, uma tentativa de golpe de Estado que tinha gorado. Portanto, quando se dá o 25 de Abril, a notícia foi recebida com algum receio".
A autora de "Os memoráveis", romance que lançou no passado dia 11, e no qual evoca, de forma literária, a "Revolução dos Cravos", lembra que nesse dia ficou a ouvir as notícias pela rádio. "Havia uma desconfiança enorme em relação ao que se estaria a passar. Pensava-se que, mais uma vez, iria tudo dar em nada".
As horas de espera por dados mais conclusivos foram-se alargando. "É preciso lembrar que, na altura, as comunicações estavam a milhas de serem o que são hoje. Além de que os próprios militares pouco adiantavam sobre o assunto".
Lídia Jorge admite que, em 1974, "ninguém sabia muito bem o que pensava a generalidade das figuras militares cujos nomes iam sendo conhecidos através da rádio. "Tínhamos lido 'Portugal e o Futuro', do general António Spínola, mas pouco mais".
As notícias só chegaram a Moçambique de forma mais clara já muito ao final do dia. "Só muito mais tarde é que se teve a noção de que em Lisboa havia uma revolução. Que não era um golpe de Estado mas uma revolução. E que a população estava no meio da rua. Aí, digamos que começou a haver alegria".
A escritora classifica essa data de há 40 anos como "o dia em que fomos todos iguais". E lamenta mesmo não ter estado no Largo do Carmo.
"Para mim foi o ponto mais marcante de todo o processo". Fala, por isso, das imagens icónicas de gente pendurada nas árvores, todos irmanados numa alegria imensa. "Foi um momento único", conclui.