A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) ameaçou suspender o fornecimento de refeições aos operacionais que atuam no combate aos fogos florestais.
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O extremar da posição da representante das associações de bombeiros surgiu após a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) ter entregado ao Ministério Público uma auditoria que aponta para fortes indícios de as corporações estarem a sobrefaturar a alimentação dada durante os incêndios.
A LBP acusou, na sexta-feira, a IGAI de não ter permitido o "exercício do contraditório" e atirou para a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) a "responsabilidade" de explicar "as eventuais discrepâncias", já que são os Comandos Distritais da Proteção Civil a quem compete fiscalizar tais faturas [ler texto ao lado].
As associações defendem ainda que deve ser a Proteção Civil a fornecer as refeições a todos os operacionais - onde se incluem os elementos da GNR, INEM, Forças Armadas, Sapadores Florestais e Força Especial de Bombeiros (FEB).
No relatório sobre as causas da destruição de metade do concelho de Mação, pelo incêndio que afetou a Região Centro em junho de 2017, a IGAI detetou que as corporações da Sertã, Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova e Mação cobraram ao Estado milhares de refeições quando o número de operacionais no teatro de operações era muito inferior.
Questionada pela IGAI, a ANPC alegou dificuldade no controlo de tais pagamentos, que no caso de Mação rondaram os 150 mil euros. Motivo pelo qual os auditores concluíram, já em dezembro último, estar "perante um comportamento padronizado" nos fogos.
Comer ao mudar o turno
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou, ontem, ao JN, "a receção, muito recentemente, do relatório mencionado". "O documento encontra-se em análise", adiantou.
Os comandantes das corporações visadas acusaram a IGAI de não terem sido ouvidos. "Os bombeiros são pessoas de bem. É pena ver estes relatórios a denegrirem a sua imagem", disse Tiago Marques, de Proença-a-Nova. Semelhante reação teve o Comandante Distrital da Proteção Civil de Castelo Branco, Francisco Peraboa, que disse desconhecer tal relatório. Apenas João Costa, comandante de Idanha-a-Nova, deu uma justificação para os números díspares em relação a pequenos-almoços e almoços. "Da minha corporação posso adiantar que o que se passou foi: quem saiu do terreno de manhã, já saiu tarde, ainda foi almoçar à vila". "Os operacionais não estavam no teatro de operações, mas tinham de comer", explicou.
Ao JN, Carlos Silva, o presidente da Félix - Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil, lamentou que "o enfoque estejam a ser os bombeiros, que são apenas operacionais". "Tais práticas, a existir, são das associações humanitárias que detêm os corpos de bombeiros", concluiu.