Inspeção-Geral da Saúde sugere ao INEM que esclareça população sobre a sobrecarga e ineficiência provocada por contactos sucessivos para a linha de emergência. Durante a ocorrência de Sérgio Abreu, vítima de enfarte no dia 4 de novembro do ano passado, havia 161 chamadas em espera no "separador 112" do INEM.
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Em momentos de aflição e perante a falta de resposta nas centrais telefónicas do 112 e do INEM, é frequente ocorrerem várias chamadas quase em simultâneo para a linha 112 com o objetivo de obter uma resposta mais rápida. Porém, este comportamento das vítimas ou de quem está próximo delas leva à criação de múltiplas ocorrências, afetando vários recursos e dispersando o tratamento do caso.
"A população portuguesa desconhece que, no momento em que desliga uma chamada telefónica de socorro, por não ter sido atendida, e efetua novas chamadas, naturais em situações de enorme aflição e emergência, está a promover a abertura de múltiplas ocorrências, a afetar diferentes técnicos, assim promovendo a dispersão do tratamento da situação", refere a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) no relatório sobre o atraso na resposta de emergência a Sérgio Abreu, utente de Pombal que entrou em paragem cardiorrespiratória na sequência de um enfarte agudo do miocárdio num dos dias de greves no INEM.
Por outro lado, acrescenta a IGAS, em dias de enorme sobrecarga de trabalho e escassez de recursos humanos, as chamadas poderão ficar em espera num “Separador” que fica sem retorno quando é excedido o prazo de quinze minutos.
Sobrecarga impede chamadas de retorno
Apesar de haver um operador do INEM escalado a nível nacional - operador de callback - que tem como função monitorizar as chamadas desligadas e fazer a "chamada de volta", tal nem sempre acontece quando há sobrecarga de trabalho.
Naquele dia 4 de novembro, os factos apurados pelos inspetores indicam que houve várias chamadas de familiares de Sérgio Abreu para o 112 que levaram a vários reencaminhamentos para o CODU, contribuindo para uma acumulação de contactos no "separador 112".
O que levou a IGAS a sugerir ao INEM que informe a população sobre estes constrangimentos e promova "uma adequada reflexão sobre o procedimento de “call back/tempo excedido de call back”. No relatório, a que o JN teve acesso, pode ler-se que no momento da ocorrência de Sérgio Abreu havia 161 chamadas em espera no "Separador 112".
Os inspetores concluíram que o desfecho fatal poderia ter sido evitado, caso a vítima tivesse tido um socorro atempado e sido transportada, em tempo útil, para uma unidade hospitalar com capacidade para fazer uma angioplastia coronária. O relatório aponta falhas graves à atuação de uma técnica e do médico regulador do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Coimbra que, como o JN noticiou, demoraram quase meia hora para acionar o meio mais diferenciado.