Sociedade de Urgência Pediátrica pede à comunidade e às entidades de saúde que sigam as regras. Panfleto ensina pais a identificar sinais de alerta.
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Há pais que estão a levar as suas crianças ou adolescentes às urgências pediátricas sem que haja razão para isso - para a realização de testes à covid-19, por exemplo, ou até para pedirem baixas médicas - condicionando o acesso daqueles que têm doença aguda e realmente precisam de assistência.
Muitos fazem-no por moto próprio, mas há outros que estão a ser encaminhados pelo SNS 24 (conhecido como linha Saúde 24) ou porque não obtêm resposta dos centros de saúde. O aviso foi dado, esta semana, pela Sociedade de Urgência e Emergência Pediátrica (EuSPP), da Sociedade Portuguesa de Pediatria, numa tomada de posição.
"Alertamos a população, as escolas, as instituições governamentais para o facto da utilização ou referenciação indevida à urgência pediátrica poder perturbar o atendimento do verdadeiramente urgente e emergente", lê-se no documento enviado à Direção-Geral da Saúde (DGS) e ao Colégio de Pediatria, Ordem dos Médicos, entre outras entidades.
Ao JN, Ana Garrido, presidente da EuSPP, confirmou que a referenciação para os hospitais está a ser feita pelo próprio sistema de saúde. "O que acontece com a Saúde 24 é que parece desconhecer os recursos locais para envio dos doentes. Se no sistema não parece que há um ADC (área dedicada à covid) para onde referenciar doentes, eles são obrigados a enviar para o serviço de urgência", explicou. Nos centros de saúde, "o que sabemos é que os pais não se sentem à vontade para ir, porque a marcação de consultas é muito difícil e a maioria delas não são presenciais". Desta forma, sublinhou, não se está a cumprir a norma da DGS "em que estão perfeitamente discriminados os critérios de referenciação dos doentes aos vários cuidados de saúde".
Para fazer face a esta situação, a sociedade lançou o panfleto "Quando levar o seu filho à urgência" para ajudar os pais a perceber em que situações é que devem ir aos hospitais (ver ficha).
Em resposta ao JN, o Ministério da Saúde não nega que tal esteja a acontecer. "O SNS 24 tem por base um algoritmo, e a prescrição para testes é feita mediante avaliação clínica por ADC-C (comunidade) ou ADC-SU (serviço de urgência)". No entanto, garante que os circuitos que permitam respostas mais adequadas aos utentes estão "em permanente aperfeiçoamento".
Acesso dificultado
Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), que tem vindo a denunciar a falta de meios nos centros de saúde, reconhece que o acesso está mais difícil por esse motivo.
"Pode não ser com a rapidez pretendida pelos pais, cuja urgência pode não corresponder à emergência clínica. Mas a resposta nunca pode ser essa [encaminhamento para as urgências], a não ser que seja necessário".
O responsável adiantou que os médicos estão apreensivos com a resposta para o outono-inverno, e defendeu a emissão de conteúdos claros para que "a população saiba onde se deve dirigir", sem sobrecarregar o sistema.
Ir à urgência
38 graus de febre medida no reto em bebés com menos de três meses, ou 37,6º nas axilas. A temperatura aumenta com a idade. Atenção a pele marmoreada, lábios e unhas roxas e manchas na pele.
Traumatismos
Fratura aberta, deformidade ou dor constante. Ferimentos profundos, traumatismo craniano. Alergia grave, como o inchaço dos lábios ou pálpebras. Ingestão de produtos tóxicos ou de objetos.
Alterações
Podem ser neurológicas ou de comportamento, gástricas e intestinais, genitais e urinárias e da pele e mucosas e articulares. O folheto descrimina cada caso, por isso deve sempre ser consultado.