
Algumas câmaras estão a tomar a dianteira no contacto com os utentes
CARLOS BARROSO/LUSA
Médicos e centros de saúde pedem campanha para atualizar bases de dados. Simulador para data da vacinação tem números de telefone em falta.
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A lista de contactos de utentes dada pela Saúde à Câmara de Cascais, na semana passada, para que a Autarquia agende a toma da vacina inclui uma pessoa morta há 20 anos, idosos residentes em lares e já vacinados ou emigrantes. "É um problema geral, as bases de dados estão desatualizadas", disse ao JN o presidente Carlos Carreiras. A ponto de Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, e Diogo Urjais, da Associação de Unidades de Saúde Familiar, exigirem do Governo uma megaoperação de atualização dos contactos dos utentes.
Esta semana, a fiabilidade das bases de dados dos utentes voltou a ser levantada por Carlos Carreiras. Cascais acordou com a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo que serão os serviços camarários - e não os centros de saúde - a telefonar aos utentes e a marcar o dia e hora para a vacina. "Não é só Cascais e não estamos na fase pior. Quando chegar à generalidade da população, vai ser a confusão total", disse.
O caso do utente morto há 20 anos "é extremo", reconhece, mas ilustra o "dispêndio desnecessário" de energia. "Não devíamos andar à procura de pessoas a viver em lares e já vacinadas", diz Carlos Carreiras. Ao JN, a Segurança Social, que tutela os lares, remeteu para a Saúde. "É a Saúde que tem a identificação da totalidade dos utentes residentes em lares que foram vacinados", disse fonte oficial. O Ministério da Saúde e a task force não responderam ao JN.
Muitos são contactos fixos
O presidente dos Autarcas Social-Democratas e de Mafra, Hélder Sousa Silva, assegura que, no global, a convocatória corre bem. O homólogo socialista e autarca de Vila Real, Rui Santos, concorda, apesar de saber de falhas, como a inclusão na lista de emigrantes. Para Rui Santos, porém, o maior problema é a insistência da Saúde em centrar o agendamento no envio de mensagens. "Há pessoas com um desconhecimento absoluto do país real", lamentou. E ilustrou: na freguesia de Abaças, só três dos 80 idosos têm telemóvel.
Em Gondomar, diz Marco Martins, a Câmara está a colaborar no agendamento da vacinação e apela aos utentes que atualizem os dados. Até porque, lembrou, o plano inicial do Governo passava por um sistema automático de envio de SMS, que "não está a funcionar". Nem pode, enquanto as bases de dados privilegiarem números fixos, em detrimento de móveis - o que acontecerá em um terço dos casos, calcula Roque da Cunha.
"Colocamos a questão aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde", que gere o Registo Nacional do Utente (RNU), disse Roque da Cunha. Mas sem sucesso. Por isso, junta-se a Diogo Urjais no apelo ao Governo para que inicie uma operação de atualização das bases de dados, visto que o simulador de consulta tem dados em falta . "Se a ministra da Saúde sabe disto e nada faz, está a ser politicamente criminosa. Que use as agências e os assessores que enaltecem a sua imagem", diz o sindicalista.
Alternativas
Gondomar à porta
Foi o que a Câmara e juntas de Gondomar fizeram: bateram à porta de 4294 pessoas sem contacto móvel na base de dados. A lista completa tem 15 796 nomes.
Voluntários
A Câmara de Cascais está a recorrer ao voluntariado jovem para ir a casa das pessoas que não conseguem contactar por telefone. Deixam um número de telefone para o qual as pessoas devem ligar.
Tomar iniciativa
Os utentes podem atualizar os contactos (e de familiares) junto do centro de saúde. Em alternativa, podem fazê-lo em https://servicos.min-saude.pt/covid19/vacinacao-utente.
E os acamados?
A vacina tem de ser dada em poucas horas, depois de abrir o frasco. "Como faremos com os acamados? Não se pode andar a saltar de casa em casa", questiona Carlos Carreiras.
