Os jovens portugueses são bons a utilizar as tecnologias, mas apresentam dificuldades a nível da linguagem no que toca à interpretação da informação, e de análise de questões ideológicas. Estes são alguns dos dados apurados no projeto da Comissão Europeia "EduMediaTest", publicados esta terça-feira, 6 de setembro, e que analisou a literacia mediática dos jovens europeus. Os portugueses superaram a média em quatro das seis dimensões avaliadas.
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Em representação de Portugal, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a convite do CAC - regulador catalão do audiovisual, candidatou-se ao projeto "EduMediaTest", e, na fase piloto de testagem da ferramenta digital, realizada entre 17 e 28 de maio de 2021, contou com a participação de 2636 jovens com idades entre os 14 e os 18 anos, de turmas do 8.º ao 12.º ano. Apesar da maioria dos alunos portugueses inquiridos estarem na vertente regular, também houve a oportunidade para alguns da vertente profissional testarem a ferramenta.
No relatório nacional, a ERC concluiu que os jovens portugueses apresentam um nível de alfabetização mediática semelhante ao dos colegas europeus, com uma pontuação média de 14,45 pontos em 60,5 possíveis, no conjunto do questionário. Apesar de partilharem facilidades e dificuldades idênticas, os jovens portugueses superaram ligeiramente a média em quatro das seis dimensões avaliadas, respetivamente: tecnologia, estética, produção e difusão, e linguagem, sendo nas duas primeiras onde apresentaram um melhor desempenho.
Isto significa, respetivamente, que os alunos portugueses revelam uma literacia digital adequada no que diz respeito às competência técnicas necessárias para acedem a conteúdos mediáticos e para os gerirem, tal como para os procurarem na Internet; uma capacidade adequada para relacionarem produções mediáticas com outras obras artísticas; a capacidade de partilhar e disseminar informação através dos meios tradicionais e das redes sociais; e, ainda, a capacidade linguística necessária para modificar produtos mediáticos existentes, conferindo-lhes novos significados e valores.
Raparigas melhores que rapazes
A ERC concluiu ainda que, quando distribuído por sexo, o desempenho dos inquiridos é, em média, ligeiramente melhor nas raparigas (14,65) do que nos rapazes (14,21). Quando observadas outras variáveis sociodemográficas, a ERC denotou melhores performances entre os jovens mais velhos, nomeadamente os que nasceram até 2004, e entre aqueles cujas mães ou encarregadas de educação são licenciadas ou apresentam graus académicos superiores à licenciatura, uma vez que "as mães são mais escolarizadas do que os pais - mais de 70% destas concluíram o ensino secundário ou um grau superior; os pais têm na maioria o 2.º e 3.º ciclo e o secundário", como indica o relatório.
Segundo o relatório nacional, a colaboração de turmas de 25 escolas públicas e privadas, de contextos rurais e urbanos, de todas as regiões do país, permitiu que Portugal tenha contribuído com o maior número de participantes a testar a ferramenta digital antes de ser tornada pública, respetivamente com 2636 num total de 8699 alunos.
As conclusões internacionais são da avaliação desenvolvida no âmbito do projeto "EduMediaTest" , ao longo de 2020 e 2021, que integra o programa "Media Literacy for All" da Comissão Europeia, em colaboração com a Universidade Pompeu-Fabra em Barcelona e várias entidades reguladoras de media e instituições públicas na Catalunha (Espanha), Croácia, França, Grécia, Irlanda, Portugal e Eslováquia.
Educar em sala de aula
Os resultados apurados pela ferramenta de avaliação e formação em educação para os média, com a participação de 8699 jovens com idades entre os 14-18 anos, no conjunto dos seis países europeus, confirmam a necessidade de investimento na formação ao nível de diferentes competências de literacia mediática. Como é referido no relatório em português, a pesquisa mostrou-se útil para avaliar o nível de literacia mediática e também para se tornar consciência sobre a necessidade de melhoria, e portanto, a importância de trabalhar a educação para os média em sala de aula", uma grande necessidade de melhorar a alfabetização mediática entre os jovens".
Comprovaram-se ainda outras das hipóteses de partida deste projeto: os jovens apresentam melhores níveis de literacia ao nível do uso das tecnologias, mas com dificuldades a nível do uso da linguagem, como à interpretação de informação; de questões ideológicas, ou outras dimensões que se relacionam com o funcionamento dos meios de comunicação social enquanto negócio ou com a sua regulação.