Livre acusa PSD e CDS de estarem com “muita vontade de ir a correr” para eleições
O Livre acusou hoje PSD e CDS, partidos que suportam o Governo minoritário, de terem "muita vontade de ir a correr" para eleições legislativas antecipadas, considerando que o primeiro-ministro forçou uma comissão parlamentar de inquérito ao não prestar esclarecimentos.
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"É, como temos dito várias vezes, uma crise política que tem sido desejada pelo Governo. Nós percebemos que o PSD e o CDS têm muita vontade de ir a correr para eleições porque acham que, de alguma forma, isso os vai legitimar e isso vai apagar esta situação", acusou Paulo Muacho, deputado do Livre, na Assembleia da República.
O dirigente do Livre falava depois de esta manhã o PS ter entregado a proposta para constituir uma comissão parlamentar de inquérito potestativa (obrigatória) para "avaliar do cumprimento pelo senhor primeiro-ministro das regras relativas ao exercício do respetivo mandato e das medidas adotadas para a prevenção de conflitos de interesses pelo Governo", na sequência do caso que envolve a empresa familiar Spinumviva.
Paulo Muacho considerou lamentável que se tenha chegado a este ponto.
"Não porque um partido apresente esta comissão parlamentar de inquérito, mas porque o primeiro-ministro não tenha dado ainda os esclarecimentos necessários para que o parlamento se sinta esclarecido sobre todas as situações que envolvem esta empresa", argumentou.
O deputado afirmou que governar em minoria e no contexto político atual "não é fácil" e "implica uma grande capacidade de diálogo com a oposição", acusando o executivo PSD/CDS de não o ter feito até hoje.
Realçando que o PS já fez saber que tenciona avançar com esta comissão de inquérito seja nesta legislatura ou numa próxima, Paulo Muacho considerou "importante que não reste qualquer sombra de dúvidas sobre a idoneidade do primeiro-ministro, sobre as suas atividades empresariais e sobre uma eventual mistura entre interesse público e interesses privados".
"Mas poderíamos ter conseguido evitar esta crise política, a moção de confiança que o próprio Governo apresenta, se o primeiro-ministro tivesse sido transparente e tivesse sido claro com os portugueses e não compreendemos porque é que o primeiro-ministro continua a querer evitar este tema e esconder e furtar-se estas explicações", defendeu.
Paulo Maucho acrescentou que “quer o primeiro-ministro mude ou não com eventuais eleições, continua a ser relevante” apurar o que “efetivamente aconteceu ou não”.
O parlamento debate na terça-feira uma moção de confiança apresentada pelo Governo PSD/CDS que tem chumbo anunciado, a confirmarem-se as intenções de voto anunciadas.
O chumbo de um voto de confiança implica a demissão do Governo. O presidente da República, face a este cenário, já antecipou que as datas possíveis para realizar legislativas antecipadas o mais breve possível são 11 ou 18 de maio.
A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou esta semana apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.
Depois de mais de duas semanas de notícias – incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva - de duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou a 05 de março a apresentação de uma moção de confiança.