Lobo Xavier acusa Costa de adensar clima de “intriga e de ambiguidade” contra Marcelo
António Lobo Xavier, conselheiro de Estado, acusou, esta terça-feira, o primeiro-ministro de adensar o “clima de intriga" contra o presidente da República, negando qualquer violação do dever de confidencialidade. As declarações surgem depois Costa ter dito que nunca transmite por heterónimos conversas com Marcelo.
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“Eu não temo que me digam que violei a confidencialidade”, salientou António Lobo Xavier à CNN Portugal, depois de ter sido questionado se tinha quebrado este dever quando referiu, no programa da CNN e TSF “ O Princípio da Incerteza”, que António Costa tinha dito publicamente que sugeriu a Marcelo Rebelo de Sousa que falasse com a procuradora-geral da República, Lucília Gago, para obter mais esclarecimentos sobre a operação Influencer. O episódio não foi confirmado nem desmentido por António Costa, que se escusou no dever de reserva de informação sobre as matérias discutidas no Conselho de Estado.
“O primeiro-ministro tinha duas hipóteses: negar ou admitir" que esteve na origem de “um facto absolutamente normal - pedir ao PR que falasse com a PGR, o que não é grave nem problema nenhum”, afirmou. Lobo Xavier refere que o primeiro-ministro “preferiu adensar um clima de intriga e de ambiguidade, infame contra o Presidente da República”, acrescentando que tem o direito de defender a sua “honra e servir a verdade”.
"Ainda que isso tivesse acontecido, não estava especialmente preocupado de acordo com os meus valores e o modo como vejo a lei e o funcionamento das instituições", disse.
No entender de Lobo Xavier, o primeiro ministro, "sabendo que já havia 'spins' e que já havia intriga sobre qual teria sido a intervenção do presidente da República, preferiu não confirmar, preferiu a ambiguidade". “A "ambiguidade não serve, é preferível a verdade", salientou.
"Confundido a intervenção do presidente [da República] e sugerindo e permitindo as especulações mais variadas, eu teria preferido a verdade. Portanto, quando eu próprio falo disso, num programa da CNN, o facto António Costa pediu a chamada da procuradora-geral da República já existia na comunicação e António Costa já tinha sido confrontado com ele", explicou.
"Tenho de defender a verdade e cá estarei para as consequências"
António Lobo Xavier sublinhou, ainda, não estar “disponível” para que, “num assunto tão importante, num caso em que o presidente, que é aliás nestas circunstâncias do país o único referente realmente que não está em causa, a ideia de uma ambiguidade que pode sugerir alguma maquinação”. “É uma ideia insuportável, que conduz a mentiras, especulações e, no meu juízo de valor, querer proteger o direito à reserva, deixando adensar esta intriga tão prejudicial à democracia e ao funcionamento da República, para mim tem uma conclusão absolutamente indiscutível: eu tenho de defender a verdade e cá estarei para as consequências", notou à CNN Portugal.
A polémica surgiu quando António Costa afirmou, no passado sábado, que não se recordava de ter falado sobre quem chamou ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e referiu que tem o princípio de não revelar, “nem por heterónimos que escrevem nos jornais”, as conversas que mantém com o presidente da República. Antes, Marcelo Rebelo de Sousa tinha confirmado, em Bissau, que foi o próprio primeiro-ministro que lhe pediu para chamar Lucília Gago a Belém para o informar sobre o processo “influencer” em que o ainda chefe do Governo está envolvido. No dia da demissão do primeiro-ministro, Lucília Gago esteve reunida com Marcelo, em Belém. Mais tarde, Costa apresentaria a demissão.