O Governo ainda tentou desvalorizar, esta segunda-feira, a polémica em torno da posição crítica de Lula da Silva sobre o apoio da União Europeia à Ucrânia, o que implicitamente atinge Portugal, nas vésperas da chegada do presidente do Brasil. O PSD associou-se numa separação das águas. Mas começam a surgir posições negativas dentro do PS.
Corpo do artigo
E já há protestos garantidos para a cerimónia de boas-vindas e manifestações na rua. "Não aceitamos, quando estamos com uma guerra na Europa, que o "lóbi putinista" de que Lula da Silva faz parte venha impor-se aos portugueses numa data tão importante como 25 de Abril", justificou, assim, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, a razão pela qual só estará ele na bancada da IL na sessão de boas-vindas a Lula da Silva e ostentando um símbolo da bandeira da Ucrânia. "Estamos lá e enfrentamos Lula da Silva, olhos nos olhos, pela liberdade e pela Ucrânia", disse.
Já os deputados do Chega estarão todos presentes, mas farão uma "ação firme" contra Lula. "Não sabemos ainda qual é, mas vamos ter essa ação firme", antecipou André Ventura.
E até da bancada do PS começam a surgir críticas. "O que o presidente Lula disse não é a posição de Portugal, da União Europeia, e que, a meu ver, é a correta. Julgo que uma demarcação [por parte do Governo e do presidente da República] se justificaria", defendeu a deputada socialista e ex-ministra Alexandra Leitão.
PSD ataca a Direita
Mas o Governo não se demarcou e procurou, antes, desvalorizar a polémica.
"Temos uma posição muito clara. O Brasil é um país soberano, desenvolve também as suas posições. Sabe-se que não são perfeitamente homogéneas com as posições portuguesas, mas isso não obsta minimamente a que haja uma relação muito forte, de grande proximidade", considerou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, garantindo que o Governo "não faz nenhum tipo de drama" das diferenças entre a política externa brasileira e a política externa portuguesa.
"A vinda de Lula da Silva tem todo outro significado, tem a ver com o funcionamento democrático das instituições no Brasil que é reposto", acrescentou a líder bloquista Catarina Martins.
O líder social-democrata partilhou da separação das águas.
"Temos uma divergência profunda, elementar do ponto de vista dos princípios. Isso não significa que desrespeitemos o povo brasileiro. E mais: não nos podemos esquecer das centenas de milhares de portugueses que vivem no Brasil e de brasileiros em Portugal", vincou Luís Montenegro, atacando a IL e o Chega pelos protestos anunciados: "Aqueles que não têm capacidade de ver isto não estão à altura de assumir cargos de responsabilidade na democracia portuguesa".
Mas o ataque de Montenegro acabou por apanhar, também, o parceiro histórico de coligação: o líder do CDS, Nuno Melo, pediu que "seja cancelada a vinda do presidente Lula ao Parlamento.
E até o histórico social-democrata Pacheco Pereira, que considerou "perigosas" e "inaceitáveis" as declarações de Lula da Silva e entende que todos se devem demarcar dessa posição, pedindo protestos dentro e fora da Assembleia da República.