Há 50 anos a celebração do 1.º de Maio, seis dias após as eleições para a Assembleia Constituinte, ficou marcada pela tensão entre PS e PCP.
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Há 50 anos, o 1.º de Maio não foi uma festa. Foi o dia da separação da Esquerda em que Mário Soares foi impedido de discursar. Cinco décadas depois, o filho João Soares organiza um colóquio no mesmo local (estádio 1.º de Maio, em Lisboa) para recordar os acontecimentos. José Ernesto Cartaxo, antigo dirigente da CGTP, assume ao JN que os trabalhadores e a luta sindical perderam nesse dia com a rutura.
Um ano depois de Mário Soares e de Álvaro Cunhal desfilarem lado a lado até à Alameda D. Afonso Henriques para celebrarem o primeiro dia do Trabalhador após o 25 de Abril, o país assistiu à rutura entre os dois partidos. A data foi assinalada com duas manifestações e muita contestação. Manuel Alegre garante que deu um pontapé a um popular que tentou esfaquear Soares. Um comunicado da Comissão Política do PCP emitido a 3 de maio de 1975 acusa o PS de ter feito “uma campanha de desinformação”.
“Foi neste dia que começou o Verão Quente. Foi o primeiro ato violento”, recorda Álvaro Beleza. O presidente da SEDES, também na organização do colóquio, recorda que esteve no estádio há 50 anos e viu quando os militantes socialistas foram impedidos de entrar no recinto. Ainda membro da JSD foi nesse dia, conta, “que começou a admirar Mário Soares”. “Foi um momento relevante, foi quando se separaram as duas Esquerdas: a democrática e a outra”, afirma Beleza.
“Regra democrática”
O 1.º de Maio há 50 anos realizou-se seis dias após as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte que o PS venceu com 37,9% (PCP teve 12,5%) e um dia após a publicação da lei da unicidade sindical, aprovada sob grande contestação. Para João Soares foi o dia em que o PCP assumiu o desrespeito pela regra democrática de deixar falar quem venceu nas urnas.
Os comunistas defendem que só estavam previstos os discursos do Presidente da República, do primeiro-ministro e do dirigente da Intersindical.
José Ernesto Cartaxo sublinha que é crucial não esquecer o contexto: estava-se em pleno processo revolucionário (PREC) e a defesa da lei da unicidade sindical foi uma “tremenda batalha”. “Foi neste caldeirão que se celebrou” o dia do Trabalhador há 50 anos, aponta, voltando a defender: “a unidade faz a força”. Para o militante histórico do PCP, nesse dia, ficou claro a clivagem ideológica entre os dois partidos que “só se aproximaram durante a geringonça”. Interpelado se nesse dia da separação da Esquerda, os trabalhadores perderam, responde: “para os trabalhadores e para a luta sindical foi mau”.