Instituto da Conservação da Natureza não sabe o destino final do pinho. Criados 33 parques com a meta de captar um milhão de toneladas para dar apoios, mas só receberam 158 toneladas.
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Foram precisos quase três anos, mas a madeira queimada no incêndio que devastou o Pinhal de Leiria está finalmente quase toda vendida. E uma boa parte foi exportada para o mercado chinês, revela a associação que representa as empresas do setor. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) escuda-se na lei para dizer que não sabe o destino final da madeira, porque a isso não é obrigado.
Segundo vários empresários do setor contactados pelo JN, muito do pinho que poderia ter entrado nos parques e assegurar matéria-prima por mais algum tempo para as indústrias de transformação nacionais acabou por sair para a China, um mercado menos exigente em termos de provas de vida e de certificados de qualidade. Consequência: muitas das empresas poderão ter sérias dificuldades por falta de matéria prima de qualidade. Pedro Serra, presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (ANEFA), assegura que uma boa parte da madeira queimada "foi para a China".
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Segundo apurou o JN, ainda no rescaldo dos grandes incêndios que fustigaram a zona Centro do país, em outubro de 2017, já andavam negociantes estrangeiros a reunir com os madeireiros, sobretudo na região Norte, a acenar com a oportunidade de negócio da venda de madeira queimada para o mercado externo.
Na altura, alertava-se para a urgência de proceder ao corte dos pinheiros ardidos, sobretudo no Pinhal de Leiria, a tempo de ser aproveitada a sua qualidade. O Governo apressou-se a anunciar um apoio de dez milhões de euros para a criação de parques que pudessem acolher pelo menos um milhão de toneladas de madeira ardida. Mas, chegados a 2020, percebe-se que a urgência foi vencida pela burocracia e pela lentidão dos processos.
Atrasos e burocracias
As hastas públicas promovidas pelo ICNF "demoraram a ser realizadas e não o foram na frequência anunciada" e o aviso de abertura de concurso para a criação de parques de madeira queimada "só foi publicado em fevereiro de 2018". Por outro lado, "houve uma gralha na publicação" do despacho sobre as regras para o benefício dos apoios do Estado, que obrigava a identificar o proprietário da madeira e que levou muitos dos intermediários a desistir do processo, explica Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP).
Posto isto, em vez do milhão de toneladas previsto, os 33 parques de madeira queimada receberam apenas 158.318 toneladas de madeira, com direito a apoio estatal, segundo dados do ICNF. Estes espaços terão recebido mais madeira considerada não elegível para efeitos de subsídio.
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Já o ICNF diz não ter informações sobre o destino da madeira, uma vez que não é obrigado a registar "o volume, o valor ou o destino da madeira ardida nas matas nacionais e perímetros florestais da região Centro Litoral que foi exportada".
15 milhões de árvores
A Mata Nacional de Leiria, também conhecida por Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei, tem 11 062 hectares e ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande. Estimava-se que tinha, antes do incêndio de outubro de 2017, entre 11 e 15 milhões de árvores. A maioria era pinheiro-bravo.
Tesouro com 700 anos
O Pinhal de Leiria ocupou um lugar importante na história do património florestal nacional ao longo de sete séculos. Há três anos, 86% da sua área foi consumida pelas chamas, o equivalente a 9480 hectares.