Cerca de 89% dos portugueses, inquiridos pela Aximage para o JN, TSF e DN, consideram que a Igreja demorou a aceitar a investigação aos abusos sexuais.
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A maioria dos portugueses defende a suspensão imediata dos padres suspeitos de abusos sexuais de crianças (82%) e a indemnização das vítimas por parte da Igreja Católica (72%), sendo que cerca de 89% consideram que a instituição demorou muito tempo a aceitar uma investigação. Para uns, foi "uma tentativa de ocultar os crimes". Para outros, essa demora resultou do receio de "danos na sua reputação". Só 5% entendem que a Igreja averiguou no tempo certo e 2% dizem que a instituição não tinha de fazer qualquer investigação.
Quase dois terços chumbam a forma como a instituição reagiu às conclusões do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Apenas 12% consideram que a resposta da Igreja foi positiva, segundo a sondagem da Aximage, feita para o JN, a TSF e o DN.
Recorde-se que o relatório da comissão validou 512 queixas e estimou que, pelo menos, 4815 crianças terão sido abusadas em Portugal. No total, as dioceses receberam 98 nomes de alegados abusadores: cinco são de leigos e 93 de sacerdotes, 36 dos quais já faleceram.
A conta-gotas e após o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa ter afirmado que a "Igreja só afasta padres com base sólida", as dioceses começaram a anunciar a suspensão, preventiva e temporária, de alguns sacerdotes suspeitos. Até ao passado dia 22, tinham sido afastados de funções 13 padres e um leigo.
Nota "negativa" à reação
D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, foi o último dos bispos a anunciar medidas: em Lisboa, foram suspensos quatro padres suspeitos. Antes, o Porto afastara três membros do clero; Angra, dois; Braga, Guarda, Vila Real e Évora, um em cada diocese; e Leiria afastou um leigo.
Segundo a sondagem da Aximage, dois terços dos portugueses (66%) dão nota "negativa" ou "muito negativa" à forma como a instituição reagiu às conclusões do relatório da comissão. Apenas 12% dão voto favorável, considerando a reação "positiva ou muito positiva". Cerca de 89% dizem, ainda, que a instituição demorou a aceitar uma investigação sobre os abusos sexuais: 52% acreditam que a demora se deveu a uma "tentativa de ocultar os crimes" e 37% acham que a instituição "temia danos na sua reputação". Já 5% partilham da opinião que a Igreja aceitou e averiguou no tempo certo e 2% alegam que não tinha de promover qualquer investigação.
A esmagadora maioria dos portugueses defende a suspensão imediata dos padres suspeitos de abusos sexuais de crianças, correspondendo a 82% dos inquiridos pela Aximage, contra 14% que defendem a suspensão apenas depois de concluído o processo. No que toca à indemnização das vítimas, 72% sustentam que a Igreja Católica tem de pagar as devidas compensações. Cerca de 17% possuem opinião contrária e 11% preferem nada dizer sobre o tema.
Quanto ao impacto da investigação na relação dos portugueses católicos com a Igreja, as opiniões estão muito mais repartidas.
Cerca de 46% dos inquiridos acreditam num impacto temporário, enquanto 34% estão convencidos de que esta investigação terá "bastante impacto" e de que "alguns católicos deixarão de ter ligação à Igreja" Católica. Para 15%, os fiéis vão manter essa ligação.