Especialistas ouvidos pelo JN sublinham que muitos sinistros envolvem automóveis. A PSP tem operação de fiscalização até dia 3 de junho.
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Mais de metade (73%) dos sinistros com bicicletas e trotinetes em Portugal são devido a colisões, segundo a PSP. Os especialistas em urbanismo e mobilidade ouvidos pelo JN sublinham que a maioria dos acidentes não ocorre somente por causa dos velocípedes a motor ou sem motor, mas devido a um embate entre estas viaturas e os automóveis.
Nos últimos anos, a PSP e GNR registaram uma subida de sinistros que envolveram trotinetes elétricas. No ano passado, as duas forças de segurança registaram 1244 acidentes naquela categoria de veículo, mais 21% do que em 2023. Numa leitura mais fina dos dados, a PSP passou de 80 sinistros com trotinetes elétricas em 2020 para 538 em 2024. Pelo contrário, os acidentes com bicicletas, isto é, velocípedes sem motor, têm-se mantido estáveis em Portugal.
Embora as autoridades estejam a começar a apresentar os dados da sinistralidade das bicicletas separados dos das trotinetes elétricas – o que não acontecia até então –, o presidente da associação Braga Ciclável, Mário Meireles, acredita que, dado o volume dos números, muitos dos sinistros poderão estar a ser registados apenas como “velocípedes”.
“Não podemos tratar uma fuga de água, sem tapar o buraco grande. O problema da sinistralidade rodoviária não é das bicicletas e das trotinetes. Há um envolvimento grande do veículo ligeiro nas colisões com todas as outras viaturas”, atenta o doutorado em mobilidade e urbanismo. Dos sinistros registados pela PSP este ano, entre janeiro e abril, os acidentes com bicicletas e trotinetes representaram 3,6% do total.
Os dados mostram também que 73% dos acidentes com trotinetes e bicicletas foram devido a colisões, 21% despistes e 6% atropelamentos. No ano passado, a GNR registou 30 feridos graves na sequência de acidentes com trotinetes elétricas. Em 2023, foram 18.
Espaço motorizado
Nos primeiros quatros meses de 2025, a polícia contabilizou “623 sinistros com utilizadores de velocípedes e trotinetes envolvidos, dos quais 479 resultaram vítimas (16 feridos graves e 500 feridos leves)”, apontou esta quarta-feira a PSP em comunicado. Até à próxima terça-feira está em curso, em todo o país, uma operação de fiscalização para quem circula em velocípedes.
Frederico Moura e Sá, urbanista e professor na Universidade de Aveiro, explica que, mais do que a quantidade de sinistros, era importante saber se “o número de quilómetros percorridos” em bicicleta ou trotinete está a subir em Portugal. “Seria um dado mais objetivo”, afirma ao JN.
Para o docente, a “culpa” da sinistralidade tem sido imputada às vítimas. “Pode estar a passar-se a mensagem de que é perigoso andar de bicicleta ou circular a pé, o que mostra o quão motorizado está o ambiente urbano”, diz.
"Abordagem desproporcionada"
A MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta alertou ontem para os riscos de uma “abordagem desproporcionada” da operação de fiscalização da PSP aos utilizadores de bicicletas e trotinetes, que começou ontem e se prolonga até dia 3. A associação defende que os comportamentos de risco na estrada estão, “em larga maioria”, associados à “condução de veículos motorizados”.
Numa carta aberta enviada ao diretor nacional da PSP, Luís Carrilho, a MUBi diz estar empenhada em colaborar com a PSP, e as demais autoridades, para promover a segurança rodoviária. Contudo, pede aos agentes para haver mais prioridade na fiscalização do excesso de velocidade e do estacionamento abusivo.
A associação teme que, com uma operação focada nos velocípedes, haja uma “abordagem desproporcionada” por parte da PSP, que penalize “modos de transporte universais, benignos e sustentáveis, desencorajando inadvertidamente a sua utilização”.
Os automóveis são os veículos mais envolvidos em acidentes. No último relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, representaram 71% dos sinistros.