O projeto de redução das infeções hospitalares que decorreu "com sucesso" entre 2015 e 2018, entrou, esta segunda-feira, numa segunda fase. Há mais 12 hospitais que se comprometem a reduzir em 50% quatro tipos de infeções, nos próximos três anos. "Uma enorme tarefa porque os desafios continuam a ser muitos", realçou a secretária de Estado para a Promoção da Saúde. Apesar das melhorias, as infeções hospitalares prolongam o internamento, deixam sequelas e matam milhares de doentes por ano.
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O desafio Gulbenkian "STOP Infeção Hospitalar", uma parceria da Direção-Geral da Saúde e da Fundação Calouste Gulbenkian com o apoio técnico-científico do Institute for Health Improvement, expandiu-se a mais 12 instituições e passou a chamar-se "STOP Infeção Hospitalar 2.0".
Há agora 22 instituições, num total de 39 hospitais, que assinaram o compromisso de reduzir a incidência de quatro tipos de infeções frequentes, no internamento e na cirurgia.
Os resultados obtidos na primeira fase - redução em mais de 50% nas quatro tipologias de infeção, com exceção do subgrupo relativo à cirurgia colo-retal - motivaram a expansão do projeto, cuja participação é, desde o mês passado, valorizada nos contratos-programa dos hospitais. Candidataram-se "quase 30 instituições" e foram selecionadas 12.
Um estudo recente, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e pelo CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, concluiu que Portugal registou, entre 2014 e 2017, um total de 318 mil episódios de hospitalização com pelo menos uma infeção hospitalar. O tempo médio de internamento destes doentes foi nove dias e 16% dos internados acabaram por morrer durante a sua estadia no hospital.
Os hospitais que se estreiam
A primeira iniciativa contou com os centros hospitalares e universitários de S. João, Lisboa Norte e Lisboa Central, com os centros hospitalares (CH) Barreiro- Montijo e Cova da Beira, com os hospitais de Braga e de Guimarães, as unidades locais de saúde (ULS) do Nordeste, Matosinhos e do Baixo Alentejo, com o IPO do Porto e com o Sesaram - Hospital Central do Funchal.
O trabalho desenvolveu-se nos serviços de Medicina, Ortopedia, Cirurgia Geral e Cuidados Intensivos daqueles hospitais, envolvendo cerca de 50 equipas multidisciplinares (médicos, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros), num total de mais de 240 profissionais de saúde capacitados.
Àqueles hospitais juntam-se agora a Unidade Local de Saúde do Alto Minho, o Centro Hospitalar e Universitário do Porto, os centros hospitalares de Gaia/ Espinho, Entre Douro e Vouga, do Baixo Vouga, Tondela- Viseu e Lisboa Ocidental, bem como os hospitais Fernando da Fonseca, Cascais, Vila Franca de Xira, Beatriz Ângelo e Divino Espírito Santo Ponta Delgada. A ULS de Matosinhos e o CH Cova da Beira, que integraram o projeto inicial, não vão fazer parte da nova fase, por opção própria, explicou fonte da DGS.
Enquanto os hospitais do primeiro grupo vão consolidar e aprofundar os resultados obtidos, os "estreantes" vão procurar reduzir em 50%, nos próximos três anos, quatro tipos de infeções hospitalares: a infeção urinária associada a catéter vesical, a bacteriemia associada a catéter venoso central, a pneumonia associada a ventilação com tubo endotraqueal e a infeção do local cirúrgico.
"O objetivo é ambicioso, mas exequível", salientou Graça Freitas, adiantando que o projeto "está pronto a ser transferido para o terreno".
Reduzir custos associadas às infeções
Para o diretor do Programa para a Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), são "imperativos fundamentais" do projeto o facto de se basear numa aliança, de se focar no doente e na família, de promover a saúde e a equidade, de capacitar os profissionais de saúde e de reduzir custos associados às infeções hospitalares, podendo até contribuir para aumentar a produção dos hospitais.
José Artur Paiva considera que, apesar do cansaço que perdura depois de dois anos de combate à covid-19, "este é o momento" para avançar. "Nunca como agora os hospitais perceberam o papel fundamental da prevenção da infeção", disse, referindo-se ao legado que fica da pandemia.
No final da sessão, a secretária de Estado para a Promoção da Saúde, corroborou as palavras do diretor da PPCIRA, referindo o "trabalho imenso" realizado pelos hospitais no combate à pandemia. "É o momento de transpor esta experiência ao serviço de todas as outras infeções que temos de continuar a prevenir", disse Margarida Tavares.
Abertura para continuar a expansão
Pegando nas palavras do diretor do PPCIRA, António Feijó, presidente da Gulbenkian, lembrou que os "ganhos de produtividade obtém-se sem ser necessário atirar mais dinheiro para o sistema".
Considerando que o debate na área da Saúde é "muito pobre" porque se concentra apenas no dinheiro, o responsável destacou que o STOP Infeção Hospitalar "contraria isso" e mostrou que é possível obter resultados no interesse do doente por alterações de práticas.
"Absolutamente convencido" de que o projeto terá resultados excecionais, o presidente da Gulbenkian mostrou abertura para ir mais longe. "Espero dentro de um ano celebrar mais uma fase do projeto", referiu António Feijó.
Ana Lebre, líder do projeto, destacou os passos dados nos últimos 11 meses. Nomeadamente a nível legislativo, com a integração dos objetivos de redução de infeções hospitalares no Programa Nacional de Segurança do Doente e a introdução do Índice de qualidade do PPCIRA, que inclui a participação no STOP 2.0, na contratualização com os hospitais.