Os mais pobres ficaram mais pobres e os mais ricos ficaram mais ricos. A pandemia acentuou desigualdades e, numa altura em que o número de pessoas em situação de pobreza aumentou, o grupo dos milionários também. 20% da riqueza está concentrada em 1% da população.
Corpo do artigo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha razões para prever, como fez no ano passado, retrocessos no que diz respeito à redução de pobreza e desigualdades. Segundo o mais recente "Global Wealth Report", relatório do banco suíço Credit Suisse sobre o crescimento contínuo da riqueza global, referente a 2020, o número de milionários em Portugal subiu para 136.430, mais 19.430 do que no relatório do ano anterior, quando a instituição financeira identificava 117 mil milionários no país.
Apesar dos efeitos negativos da pandemia na economia nacional e no rendimento das famílias, o número de portugueses com fortunas avaliadas em 1 milhão de dólares (840 mil euros) segue a tendência de aumento que se regista continuamente desde 2015, ano em que foram contabilizadas 51 mil milionários, menos 76 mil do que em 2014, quando o banco começou a publicar dados relativos a Portugal.
Em detalhe, os dados mostram que Portugal tinha, em 2020, 128.772 pessoas com uma fortuna avaliada entre um milhão e cinco milhões de dólares, 5505 com entre cinco e dez milhões e 2056 entre 10 de 50 milhões. Com riqueza entre os 100 e os 500 milhões de dólares, estão 72 pessoas. E uma tem riqueza superior a 500 milhões de dólares.
1% concentra 20% da riqueza
De acordo com o estudo, em 2020, a parcela dos 1% mais ricos detinha 20,1% da riqueza em Portugal, mais uma décima do que em 2019, enquanto os 10% mais ricos concentravam mais de metade da riqueza (56,2%). Por outro lado, metade da população apenas detinha 6,5% da riqueza (antes da pandemia, o valor era de 7,2%).
A nível global, os dados são ainda mais alarmantes. "Estimamos que os 50% mais pobres na distribuição global da riqueza representem, em conjunto, menos de 1% da riqueza global no final de 2020. Em contraste, o decil dos mais ricos (os 10% mais ricos) tem 82% da riqueza global e o percentil mais alto (1% mais rico) sozinho tem quase metade (45%) de todos os ativos", informou o banco suíço especialista em gestão de fortunas, num comunicado sobre o estudo, divulgado esta terça-feira. "Em 2020, a criação de riqueza foi, em grande parte, imune aos desafios que o mundo enfrentava devido às medidas, implementadas pelos governos e bancos centrais, para mitigar o impacto económico da covid-19", pode ler-se.