
Dependência do jogo é reconhecida como uma adição, um problema de saúde que pode ser tratado
Artur Machado /Global Imagens
Em apenas seis meses, a lista dos autoexcluídos das apostas online ganhou 20 mil nomes. Falta prevenção e apoio ao tratamento do vício.
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A lista de pessoas que querem ser impedidas de aceder a casas de apostas online ganhou 20 mil nomes nos primeiros seis meses deste ano. Em junho, eram 94 mil os autoexcluídos, que correspondem a 14,3% dos jogadores habituais. Há dois anos, havia 35 mil (11,9%). O jogo já foi incluído na lista das dependências, mas, lembra o Instituto de Apoio ao Jogador (IAJ), falta prevenção e apoio a quem procura tratamento.
Desde 2015, qualquer pessoa pode autoexcluir-se do jogo online, durante um mínimo de três meses. A possibilidade foi aberta pelo Regime Jurídico dos Jogos e Apostas Online, que também regulamentou as casas de apostas pela internet. E o número de pessoas tem vindo a aumentar a um ritmo mais acelerado do que o dos jogadores ativos (fizeram pelo menos uma aposta).
É um sinal de que a dependência do jogo é um problema severo, que se agravou com a pandemia e o aumento do tempo passado frente a um computador, diz Pedro Hubert, presidente do IAJ. "O SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências] vai fazer um estudo sobre jogadores patológicos e eu suspeito que aumentaram e muito", diz.
Os números anteriores à covid-19 são, porém, elucidativos. Em 2012, 0,3% da população jogava de forma patológica; em 2017, a percentagem tinha duplicado (0,6%). "Mais graves são os dados do abuso." Se em 2012 0,3% da população jogava de forma abusiva (o abuso é o último estádio antes da dependência), cinco anos mais tarde já 1,2% das pessoas enquadrava-se no conceito de abuso de jogo.
falta Prevenir e tratar
O tratamento das adições - de jogo ou de outro tipo - saiu da esfera do SICAD em 2012. Ainda assim, mantém a linha de aconselhamento 1414, "um bom serviço mas com poucos recursos", segundo Hubert. O IAJ tem uma linha de ajuda, financiada pela Santa Casa, que funciona quatro horas por dia. "É positivo, mas não chega." E falta "fazer prevenção nas escolas e universidades" e "sensibilizar" médicos de família, para que "tratem a doença e não os sintomas". É que, diz, acontece tratarem a ansiedade ou a depressão sem perceberem que a causa é a dependência do jogo.
CARACTERIZAÇÃO
Mais velhos ganham terreno no digital
O perfil do jogador online está a ficar mais adulto. No início de 2019, 66,5% (dois terços) dos apostadores online tinham menos de 34 anos. Agora, a percentagem desce para 60%. Pelo contrário, tem havido um aumento de apostadores mais velhos. No escalão dos 35 aos 44, a subida foi ligeira. A partir daí, torna-se mais expressiva: em 2019, 11,3% dos jogadores tinham mais de 45 anos; agora são 16,7%. No global, fazem sobretudo apostas desportivas, de que é exemplo o Placard. Aliás, 40% dos apostadores só jogam o seu dinheiro em eventos relacionados com desporto. Outros 34% fazem quer apostas desportivas quer em jogos de fortuna e azar. Em exclusivo nas cartas, dados ou "slot machines", só apostam 26%. Traduzindo as percentagens em números, em junho, havia 653 mil jogadores ativos. Desses 261 mil gastou dinheiro em apostas desportivas, 170 mil em jogos de fortuna e azar e 222 mil foram clientes dos dois tipos de jogo.
COMO FAZER
Inscrição no site
Qualquer jogador pode pedir para ser excluído, quer no site das casas de apostas, quer no Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ). Pode pedir ajuda pelo email exclusao.online@turismodeportugal.pt.
Casinos também têm
A autoexclusão abrange casinos. Terá de se preencher um formulário disponível no site do SRIJ e enviar para info.srij@turismodeportugal.pt.
Quanto tempo dura?
A autoexclusão dura, no mínimo, três meses. Se não indicar um prazo, quando se inscreve, prolonga-se indefinidamente.
