Mais de 1400 pessoas esperam por consulta de psicologia no Hospital de São João
Mais de 1400 pessoas aguardavam, a 30 de junho, por uma consulta de psicologia na Unidade Local de Saúde de São João (ULS), no Porto. O cenário não será muito diferente do que se passa no resto do país, em que escasseiam as respostas em saúde mental no setor público ou as listas de espera são longas.
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O bastonário da Ordem dos Psicólogos tem, aliás, reforçado a “necessidade urgente” em contratar mais profissionais para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Esta quarta-feira, assinala-se o Dia Nacional do Psicólogo.
“O estigma hoje é, sobretudo, não haver acesso aos cuidados. Nós vemos as pessoas a falar abertamente sobre o assunto. Temos à volta de 600 pedidos mensais. A resposta é muito limitada”, aponta Eduardo Carqueja, diretor do serviço de psicologia da ULS de São João. A trabalhar há 37 anos na instituição, o psicólogo de 62 anos afirma que havia, a 30 de junho, 1465 utentes aguardavam por uma primeira consulta de psicologia, mais 157 do que no ano anterior e com um tempo médio de espera de 62 dias.
“São utentes que estão integrados na ULS de São João, porque são acompanhados em alguma especialidade médica e são referenciados para psicologia, mas que podem não ser desta área [de residência]”, clarifica o psicólogo. Eduardo Carqueja diz que há a possibilidade de encaminhar o utente para um serviço perto da zona onde o utente reside, para diminuir os constrangimentos.
No final de abril, o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses disse, numa visita à ULS de Matosinhos, ser inaceitável haver tempos de espera “de um ano” para uma primeira consulta, uma situação que se repete pelo país. “Quando as pessoas são referenciadas para os serviços de psicologia precisam de receber apoio o quanto antes”, referiu Francisco Miranda Rodrigues. O bastonário reforçou a “necessidade urgente” do Governo em contratar mais psicólogos para o SNS. Na ULS de São João, trabalham 43 psicólogos.
“Dados preocupantes”
Eduardo Carqueja detalha que 368 doentes aguardam uma consulta de neuropsicologia, especialidade focada no tratamento de doenças como a demência ou o alzheimer, em que cada atendimento pode demorar “no mínimo duas horas”. Em casos de perturbação do espetro de autismo, 110 crianças estão à espera. “Há dados preocupantes que nos devem chamar a atenção”, conclui o psicólogo.