Consultas de Profilaxia Pré-Exposição alargadas a mais três hospitais. Norma para acesso a fármaco está a ser revista e poderá abranger jovens.
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Mais de 1600 pessoas em risco de contrair a infeção por VIH já acederam às consultas de profilaxia pré-exposição (PrEP), iniciadas em 2018. A rede com 20 hospitais prescreve a toma de um medicamento que reduz a possibilidade de transmissão do vírus em mais de 90%. Este ano, a resposta foi alargada a mais três unidades: os centros hospitalares do Oeste, de Trás-os-Montes e Alto Douro e o hospital Amadora-Sintra.
Os dados da Direção-Geral da Saúde baseiam-se num inquérito feito, até maio, aos hospitais. Segundo a coordenadora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e VIH, está a ser revista a norma que regula o acesso à terapêutica, estando a ser estudada a possibilidade de alargar as consultas de PrEP a jovens. Atualmente, a norma recomenda essa resposta para adultos, embora já exista uma consulta organizada para jovens no Hospital de D. Estefânia.
"É possível e existem algumas situações em que vamos ter de antecipar o uso para jovens. Em algumas circunstâncias muito específicas", explicou ao JN, referindo que a terapêutica "é tão segura nos jovens como nos adultos" e que já é usada por crianças e jovens com VIH. Margarida Tavares dá conta que, no primeiro semestre de 2022, será conhecido o relatório sobre a infeção VIH em Portugal. O último dava conta de que, no final de 2018, estimava-se a existência de mais de 40 mil pessoas com VIH no país.
Descentralizar resposta
Para as associações, a PrEP é uma estratégia importante de prevenção, mas ainda não chega a todos. Defendem que a prescrição do fármaco deixe de ser exclusiva dos hospitais. Até porque, alerta o Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), há pessoas a infetarem-se enquanto esperam por consulta. O GAT é a favor da prescrição por médicos do centro de saúde e que as consultas sejam abertas às organizações para retirar a pressão dos hospitais. Também a Abraço considera "urgente" essa descentralização.
"Há centenas de pessoas a querer aderir a PrEP e não conseguem. Temos casos de pessoas que se infetaram enquanto esperavam pela PrEP", contou Ricardo Fernandes, diretor-executivo do GAT. Margarida Tavares admite iniciar esta discussão "em breve".
"Queremos dar acesso a esta ferramenta preventiva numa lógica de maior proximidade. Por um lado, passar pelos cuidados de saúde primários e, no futuro, eventualmente conseguirmos colaborações com organizações de base comunitária", referiu. Tanto o GAT como a Abraço, têm protocolos com hospitais para que os médicos possam dar as consultas nas suas instalações. "É ir ao encontro das pessoas e não as pessoas ao encontro da resposta", afirmou Cristina Sousa, da Abraço.
Perguntas
O que é a PrEP?
A PrEP é uma estratégia de prevenção da transmissão da infeção por VIH dirigida a pessoas não infetadas que se encontram em situação de risco acrescido, com recurso à utilização de medicação antirretroviral. Existe sob a forma de comprimidos e está disponível através de consultas hospitalares da especialidade.
Quais os critérios de referenciação?
São referenciadas pessoas com risco acrescido de aquisição da infeção, nomeadamente "homens que fazem sexo com homens, entre homens e mulheres sorodiscordantes para o VIH e em utilizadores de drogas injetáveis". O utente pode aceder ao tratamento por autorreferenciação ou referenciado pelo centro de saúde e organizações de base comunitária.
E a profilaxia pós-exposição (PPE)?
A PPE é uma medida de emergência para prevenir a infeção por VIH, após uma possível exposição ao vírus. Para ter acesso, a pessoa deve dirigir-se ao Serviço de Urgência de um hospital da rede de referenciação de tratamento da infeção por VIH.