O número de doentes inscritos para cirurgia de obesidade disparou 61% no primeiro semestre de 2019 face ao período homólogo de 2018.
Corpo do artigo
Em junho, havia 2176 doentes à espera de serem operados, quando no mesmo mês do ano passado eram 1350. O aumento estará relacionado com um maior acesso à primeira consulta de obesidade e com as novas regras de financiamento dos hospitais para cirurgia bariátrica, introduzidas há um ano.
De acordo com informação enviada ao JN pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), dados provisórios relativos a junho indicam que foram realizadas 1269 cirurgias de obesidade no primeiro semestre, mais 34 do que no período homólogo do ano passado. Em 2018, foram realizadas 2215 cirurgias, mais do que em 2017 (2086) e do que em 2016 (2049).
A ACSS acrescenta que, em junho, estavam inscritos para cirurgia 2176 utentes. Face a dezembro (2503), a lista diminuiu 13%, mas quando comparados semestres homólogos, e tendo em conta informação divulgada há um ano pela ACSS, há um aumento de 61% da lista de inscritos ( 1350 doentes em espera em junho de 2018). Apesar do aumento, a mediana do tempo de espera para cirurgia manteve-se, em junho, nos seis meses, segundo a ACSS.
"Bloqueio" de consultas
Nos últimos anos, a cirurgia de obesidade tem sido notícia pelas piores razões. É tradicionalmente uma das especialidades com maiores tempos de espera para consulta e cirurgia. Alguns hospitais reduziram a atividade operatória e limitaram as primeiras consultas, deixando milhares de doentes obesos sem resposta.
Mais recentemente, "houve hospitais que, para esconder as listas de espera, fecharam as primeiras consultas", explica Carlos Oliveira, presidente da Associação de Doentes Obesos e ex-Obesos de Portugal. O "bloqueio" das primeiras consultas foi denunciado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) numa avaliação sobre o acesso a cuidados na área da obesidade, publicada em março.
Na sequência disso, Carlos Oliveira crê que terá havido "orientações da tutela para que os hospitais reabrissem as consultas".
No relatório, a ERS referia que, entre 2015 e 2017, dos 14 centros de tratamento de obesidade do SNS, "um não realizou qualquer consulta de cirurgia de obesidade e três realizaram um número de consultas residual", enquanto outros quatro tinham uma lista de inscritos para consultas inferior a 10 utentes e dois não tinham inscritos a 31 de dezembro de 2017.
Mais interesse dos hospitais
Para John Preto, diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Obesidade do Hospital de S. João, no Porto, o aumento da lista de inscritos para cirurgia resulta das alterações recentes nas regras de financiamento dos hospitais com Programas de Tratamento Cirúrgico de Obesidade. As mudanças despertaram o interesse dos hospitais, que estão agora a reativar as consultas e cirurgias, explica.
Através de uma portaria, de setembro de 2018, as equipas passaram a ser mais bem remuneradas pelo trabalho adicional e ficou definido o pagamento de mais duas técnicas eficazes na redução do excesso do peso, o "sleeve" e a derivação biliopancreática e transposição duodenal.
Pormenores
Quatro técnicas - No SNS há quatro técnicas cirúrgicas para tratar a obesidade (banda gástrica; bypass gástrico; gastrectomia linear vertical (sleeve) e transposição duodenal; e derivação biliopancreática).
Grupo de trabalho - No dia 21 de agosto foi criado por despacho da diretora-Geral da Saúde um grupo de trabalho de cirurgia bariátrica para analisar a atividade realizada e apresentar propostas de melhoria.
16% de obesos no país - A obesidade é uma doença crónica que afeta 15,7% da população portuguesa, segundo os últimos dados do Eurostat sobre o tema (2017).
Unidades mais procuradas estão a melhorar resposta
Para melhorar o acesso dos doentes a consultas e cirurgias, no ano passado, foram criados dois centros de responsabilidade integrada (CRI) de obesidade - estruturas de gestão intermédia que contratualizam objetivos com a administração hospitalar e recebem incentivos quando os atingem -, um no Hospital de S. João e outro no Hospital da Feira. No S. João, o diretor do CRI de Obesidade, John Preto, faz um balanço "muito positivo" do primeiro semestre deste ano. O número de primeiras consultas duplicou face a junho de 2018 e o objetivo contratualizado para as cirurgias (520 até dezembro) está perto de ser cumprido (396 no final de agosto). Os tempos médios de espera para consulta continuam longos (entre 500 e 550 dias), mas melhoraram face a janeiro (cerca de 800 dias), segundo John Preto. O cirurgião acrescentou que está a ser feito um esforço para, até ao final de dezembro, resolver todos os pedidos de primeira consulta com espera superior a um ano. Para cirurgia, o tempo médio de espera ainda é de nove meses. O S. João é o hospital do país com mais atividade na área. Segue-se o hospital da Feira, onde o CRI a funcionar desde outubro 2018, já permitiu eliminar a espera para primeira consulta e reduzir a lista de inscritos para cirurgia.