Foram recusadas em média 72% das reivindicações na última década. Em 2021, só 29% foram parcialmente aceites. Transportes lideram nas paralisações.
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A esmagadora maioria das reivindicações que estão na base das greves em Portugal é recusada, o que mostra que os resultados imediatos são reduzidos, apesar do peso político da contestação social, que ajuda a desgastar os governos. Nos últimos anos, a taxa de sucesso voltou a melhorar. Em média, na última década, 72% foram rejeitadas, 24% parcialmente aceites e apenas 4% acolhidas na totalidade. Com raras exceções, as greves são sobretudo no setor dos transportes e armazenagem, seguindo-se as indústrias transformadoras. Num terceiro lugar já afastado, estão atividades de saúde humana e apoio social.
Em 2021, segundo o Gabinete de Estratégia e Planeamento, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, foram recusados 65,7% do total de cadernos reivindicativos, num quadro de recrudescimento das greves, que totalizaram 157, batendo as 147 de 2019, último ano da geringonça.
Face ao ano anterior, igualmente marcado pela pandemia, as greves (de empresas e pluriempresas) cresceram 52%. Em 2020, assistiu-se à sua redução (menos 30%) e também do número de trabalhadores que aderiram (menos 37%).
Se recuarmos até 2011 - ano em que foi assinado, em maio, o memorando que impôs os cortes da troika - verificamos um pico de greves nos dois anos seguintes. Mas também a recusa das reivindicações bateu recordes.
Pico nos anos da Troika
Passos Coelho juntou-se ao CDS de Paulo Portas e venceu as eleições em junho de 2011. No ano seguinte, atingiu-se o maior número de trabalhadores em greve (entre aquele ano e 2021), com mais de 92 mil. Foram 127 greves e a taxa de rejeição chegou aos 86,7%.
Faz 10 anos que houve a greve geral de novembro de 2012, convocada pela CGTP e seguida por outros países da União Europeia. No ano seguinte, as reivindicações recusadas ainda foram mais: 88%.
Nos dois últimos anos do Governo de Direita, a contestação diminuiu, fruto de alguma melhoria. E as reivindicações parcialmente aceites aproximaram-se dos 50%.
Em novembro de 2015, António Costa chegou a primeiro-ministro, graças aos acordos com PCP, Verdes e BE. A coligação PSD/CDS tinha sido a mais votada, mas perdeu a maioria absoluta que os dois partidos tinham no Parlamento. Falhadas as conversações com os socialistas, Passos foi indigitado por Cavaco Silva mas o seu Executivo acabou por cair após ser aprovada a moção de rejeição do PS.
No início da geringonça, com reversão de privatizações nos transportes e reposição de feriados, o total de trabalhadores em greve baixou. Mas o protesto disparou nos últimos dois anos do primeiro Executivo de Costa, já marcados pelo distanciamento face aos parceiros com quem não renovou, em 2019, a solução de Esquerda.
Protesto de dimensão política
Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP até 2020, atravessou a troika e a geringonça. Ao JN, recordou que "as greves, manifestações e concentrações contribuíram de forma decisiva para o esvaziamento eleitoral e social do PSD e do PS". E defendeu que evitaram uma maioria absoluta e forçaram um entendimento à Esquerda.
A seu ver, "as greves fazem sentido, hoje mais do que nunca" e "não podem ser vistas apenas pelos resultados imediatos". Quanto ao Governo de Passos Coelho, "contribuíram para o desgaste político, eleitoral e social ao longo de quatro anos", com destaque para três greves gerais. Sobre um novo aumento no fim da geringonça, explica que "a partir de 2017, não havia evolução face às reivindicações". Instado sobre o facto de as greves não terem evitado a maioria absoluta do PS este ano, recordou que a pandemia e o voto útil contra a Direita foram decisivos.
Pedro Mota Soares, ministro do Trabalho no tempo da troika, comentou ao JN o aumento das greves em 2012 e 2013, notando a "dimensão de contestação política", o que "se sentia particularmente nos transportes". Do mesmo modo, justifica a redução das greves nos últimos anos do Governo de Passos Coelho com a melhoria dos indicadores. Além disso, diz que foi possível "garantir a coesão social". Lembra, a propósito, o acordo de concertação social com os parceiros sociais, assinado pela UGT mas não pela CGTP-IN.
Greves
Tratamento de lixo
Os trabalhadores da empresa Tratolixo, responsável pelo tratamento de lixo nos municípios de Sintra, Oeiras, Cascais e Mafra, vão realizar uma greve de 48 horas, na sexta-feira e no sábado, para reivindicar melhorias salariais.
Professores
O Sindicato de Todos os Professores (STOP) divulgou um pré-aviso de greves que decorrerão a 9, 12, 13, 14, 15 e 16 deste mês, em protesto contra as propostas de alteração aos concursos e também para exigirem respostas a problemas atuais, como a contabilização do tempo de serviço e a possibilidade de se reformarem após 36 anos sem penalização.