Farmácias venderam acima de 290 mil unidades em 2020. Médicos saúdam subida da comparticipação.
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Em 2020, o número de vacinas vendidas contra a pneumonia mais que duplicou face a 2019, numa diferença de mais 171 349 unidades. As vacinas são gratuitas para doentes de risco e, com a publicação de uma portaria a 21 de setembro, passaram a ser comparticipadas pelo Estado em 69%, em vez dos antigos 37%, para todas as pessoas acima dos 65 anos. Em Portugal morrem todos os anos cinco mil pessoas por pneumonia. Uma média diária de 13 mortes que coloca esta no topo das doenças respiratórias que mais matam no país. "O microrganismo que mais provoca pneumonia é o pneumococo e é prevenível usando a vacina", afirma o professor José Alves, médico pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão.
De acordo com dados da Associação Nacional de Farmácias (ANF), cedidos ao JN, a venda de vacinas antipneumocócicas tem vindo a aumentar nos últimos anos. Em 2019, foram vendidas 118 944 unidades e em 2020 o número mais que duplicou, registando-se 290 293 unidades vendidas. Até agosto deste ano, dados mais recentes da ANF, foram vendidas 47 024 unidades, mas espera-se que, até ao fim do ano, o número aumente.
Não esperar pelo inverno
"O aumento brutal no ano passado está relacionado com a covid-19", acredita o professor. "O que se recomendava era que as pessoas se vacinassem para a gripe e pneumonia porque, pelo menos, poderiam estar mais protegidas na parte respiratória e isso aconteceu", constata. "O que é preciso agora é continuar a aumentar a vacinação e não desacelerar", alerta.
Cinco mil pessoas morrem todos os anos em Portugal declaradamente por pneumonia. Uma média diária de 13 mortes que coloca a pneumonia no topo das doenças respiratórias que mais matam no país.
A vacinação pneumocócica é muito instável ao longo do ano. Tradicionalmente, ela aumenta nos meses de outubro a janeiro. "A flutuação mensal devia ser mais uniforme. Não temos de estar à espera do inverno para pensar nisso", aconselha José Alves.
"Temos de continuar a subir até chegarmos ao momento em que está tudo vacinado", diz o médico, explicando que o objetivo é ter uma cobertura de 75% na população acima dos 65 anos.
O que parece ficar mais perto com a aprovação, em setembro, da portaria 200/2021, que aumenta a comparticipação do Estado de 37% para 69%, exceto nos casos em que é gratuita. "Trata-se de uma medida muito importante porque esta vacina salva vidas", afirma Rui Costa, membro do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP). "Esta medida faz toda a diferença", garante o especialista.
"O dinheiro que se vai poupar num doente internado por uma complicação no seu estado de saúde supera em muito o custo que o país vai ter em fazer este aumento de comparticipação", diz.
Desde 2015 que as vacinas antipneumocócicas fazem parte do plano nacional de vacinação para as crianças. "Graças a essa implementação, assistimos praticante à erradicação de infeções pelo pneumococo nessa população etária. Por isso, urge proteger outro grupo etário que, pela sua idade, pelo envelhecimento e diminuição da capacidade imunológica - e portanto maior suscetibilidade à infeção, nomeadamente a infeção por bactérias e vírus - levam depois a doenças invasivas e que podem vitimar esta população", explica o médico Rui Costa.
Receitas têm de fazer menção à nova portaria
Existem dois tipos de vacinas, a 13 valente (PCV13) e a 23 valente (VPP23). As vacinas são gratuitas para grupos de risco (por exemplo, portadores de fístulas de LCR, implantes cocleares, imunodeficiência prima, recetor de transplante e síndrome nefrótica). Agora, com a nova portaria, a comparticipação aumenta para as pessoas acima dos 65 anos e continua a ser gratuita para pessoas com doenças de risco. "A grande vantagem é baixar o custo", explica Rui Costa. "A 23 valente custa para a população 9,92 euros e a 13 valente 18,32 euros (para população que não tenha descontos adicionais). Se forem pensionistas com regime especial de comparticipação, o valor da 13 valente desce para 9,46 euros e o da 23 valente desce para 5,12 euros.
"Estamos a falar de vacinas que se fazem uma única vez na vida", explica o especialista. Idealmente, deve ser feita uma primeira aplicação da PCV13 e, seis a 12 meses depois, um reforço com a VPP23. Ambas as vacinas necessitam de receita. E o médico prescritor tem de mencionar a nova portaria 200/2021 para que os utentes beneficiem da comparticipação acrescida. "Essa informação adicional deve constar na receita para que, quando for dispensada na farmácia, beneficie de 69% de desconto", alerta o médico.