Mais do que irrevogável, deixar liderança do CDS é "decisão de vida" de Portas
Uma "decisão de vida". Foi assim que Paulo Portas encerrou a conferência de imprensa em que anunciou que não vai continuar como líder do CDS. "É tempo de dar oportunidade à nova geração".
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O líder do CDS-PP, Paulo Portas, anunciou ao início da madrugada desta terça-feira, que não será candidato à liderança do partido, no próximo congresso dos centristas, que será marcado no Conselho Nacional de 8 de janeiro.
"No próximo congresso, deixarei de ser presidente do CDS e não serei candidato à liderança do partido", anunciou Paulo Portas, esta terça-feira de madrugada. Citou João Paulo II e pediu aos militantes e simpatizantes que não tenham medo da próxima etapa da vida do partido
"Chegou a hora de dar uma oportunidade a uma geração nova", disse Paulo Portas. "Tomo esta decisão com orgulho no que foi conseguido por todos ao longo deste anos. Não tenho qualquer dúvida sobre o novo CDS que vai chegar", acrescentou.
"O partido fará com total isenção da minha parte uma escolha de futuro, que deve ter toda liberdade para se afirmar", disse, numa declaração na sede do partido, em Lisboa, após a reunião da comissão política nacional em que comunicou que não se recandidata à liderança dos centristas.
Já no fim da declaração, que não teve direito a perguntas e respostas, Paulo Portas deixou escapar, perante a insistência dos jornalistas, que a decisão é mais do que irrevogável. "É uma decisão de vida", disse, já a sair da sala. Uma "decisão de vida". Foi assim que Paulo Portas encerrou a conferência de imprensa em que anunciou que não vai continuar como líder do CDS.
"Porventura, a personalidade que mais marcou a minha geração disse um dia 'não tenham medo, não tenham medo'. É isso que neste tempo de vésperas, para construir futuro, para passar o testemunho, para confiar em gente com muita qualidade, eu queria dizer em último lugar, como se fosse em primeiro. Não tenham medo, não tenham medo, confiem, o CDS vai ser capaz", pediu o líder cessante.
A afirmação de Paulo Portas inclui uma dupla citação, por um lado, do papa João Paulo II, ao pedir "não tenham medo" e, por outro lado, do antigo presidente do CDS Adriano Moreira, ao usar a expressão "tempo de vésperas".
Antes, Portas explicou os motivos que o levam a não se recandidatar. "Em primeiro lugar, o tempo: quase 16 anos de liderança de uma instituição é tempo quanto baste", disse, deixando antever um movimento estratégico, assente na convicção de que o Governo de António Costa poderá durar mais do que esperava a Direita há um mês.
"É honesto estar consciente de que se me candidatasse agora teria de estar disponível não para um mandato de dois anos, mas vários mandatos de vários anos, os da oposição e da reconquista e do regresso do centro direita ao Governo", afirmou. "Isso levaria a minha presidência do CDS para lá de 20 anos de exercício, o que, com toda a franqueza, não é politicamente desejável", afirmou.
A segunda razão "é a esperança", explicou Paulo Portas. "Sempre puxei pela nova geração do CDS, quis que tivesse experiência de Parlamento e de Governo. Incentivei-os a caminhar pelo próprio pé, a não depender da política", acrescentou.
Convencido de que o CDS tem "a melhor nova geração de políticos", Paulo Portas diz que ao dar este passo está "a facilitar o futuro, que é o que mais importa para Portugal e para o CDS".
"O novo ciclo político" foi a terceira razão apontada por Paulo Portas. "Depois de quatro de outubro, nada ficará como dantes", disse, sustentando que "o CDS só voltará a ser Governo com maioria absoluta", num contexto em que "deixou de ser determinante vencer as eleições".
"O CDS e certamente o PSD vão ter de pedalar, inovar e crescer muito", declarou.
O líder do CDS argumentou que, "no futuro, o chamado voto útil será muito mais relevante" e "os portugueses darão mais valor a um partido que não é calculista e não é demagogo".