Suzana faz 120 quilómetros diários para dar aulas, Sofia demora dez minutos a pé de casa até à escola. Em comum têm o facto de ambas terem participado num protesto contra o Governo, esta quinta-feira, em Braga, onde contestaram o atual estado da escola pública e exigiram a demissão dos governantes.
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Natural de Braga, Suzana Cerqueira mora em Chaves e está colocada em Ribeira de Pena, o que significa fazer 120 quilómetros diários, entre ida e volta. "Há 20 anos estava colocada em Chaves", lamenta.
Professora há 28 anos, entende que é "lastimável o estado a que chegou a educação" e considera que "todas as reivindicações" dos profissionais de educação "são justas" para que possa haver "escola pública com qualidade".
"Apelo ao senhor presidente da República para que não promulgue o diploma dos concursos", disse a docente ao JN, esta quinta-feira, durante a manifestação realizada em Braga, a propósito do Conselho de Ministros descentralizado.
Suzana Cerqueira apontou ainda à "necessidade de olhar às situações de mobilidade por doença", ao modelo de contratação e à "falta de equipamentos e de pessoal especializado" nas escolas para reiterar a ideia de que existe uma "enorme degradação" do ensino em Portugal.
Para Sofia Neves, professora de Famalicão cuja escola se situa a "10 minutos a pé", o novo modelo de contratação de docentes foi a "gota de água" que fez "intensificar a luta dos professores", que prometem não dar tréguas ao Governo.
"As pessoas estavam de certa forma resignadas, mas a nova forma de contratação foi a gota de água e criou muita indignação", explicou a docente, sublinhando que ser professor, neste momento, "não é atrativo".
"Estou cá precisamente para mostrar que esta é uma luta de todos e que deve envolver todos. É a defesa da escola pública que está em causa, por isso não podemos parar", sublinhou Sofia Neves.
Oficiais de justiça
O protesto, que envolveu dezenas de manifestantes ligados a vários setores, contou também com uma forte participação de oficiais de justiça, que prometem igualmente não parar os protestos até que as suas pretensões sejam atendidas.
"Temos reivindicações há muito tempo pendentes, como é o caso da revisão do estatuto ou o ingresso de oficiais de justiça numa classe que está muito envelhecida e onde faltam recursos humanos", disse Cristina Pimenta.
A manifestante criticou ainda o facto de a ministra da Justiça "não dar respostas", o que tem feito "crescer o descontentamento" na classe.
"É precisamente isso que nos fez vir para a rua, para que o Governo acorde para os nossos problemas", sublinhou Cristina Pimenta.
O protesto foi realizado numa zona confinada e com supervisão de militares da GNR, a algumas centenas de metros do Mosteiro de Tibães, o local escolhido pelo Governo para a realização do Conselho de Ministros.