Decisão tardia de suspender devolução dos livros leva a que pais ainda não consigam comprar os novos.
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Há manuais esgotados e as livrarias estão com dificuldade em responder aos pedidos dos pais. A razão deve-se ao atraso no fornecimento das editoras, que falam numa "corrida contra o tempo" para responderem às necessidades.
A 3 de julho, dando seguimento a uma decisão da Assembleia da República, por proposta do CDS/PP, o Ministério da Educação determinou a suspensão da devolução dos livros do passado ano letivo em virtude da pandemia, obrigando a que todos os livros do ano letivo que começa a partir de 14 de setembro sejam novos. Os pais sabem que nas primeiras cinco semanas deverão ser usados os manuais do ano passado, mas já estão a encomendar os novos.
Tânia São Brás, da papelaria Lita, em Anadia, revelou ter "páginas e páginas de livros pendentes" a partir do 2.º Ciclo até ao final do Secundário. No caso dos manuais do 1.º Ciclo, como já tinha sido definido que seriam novos para todos os alunos, não há falhas. "O livro de Português do 7.º ano, o de Matemática do 9.º, o de Física do 10.º" são alguns dos exemplos dos manuais adotados este ano pelo Agrupamento de Escolas de Anadia que a livraria tinha em falta quando a responsável falou com o JN.
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"Há mais títulos esgotados, muito mais cedo do que o habitual. Em anos anteriores, era frequente haver um ou outro título que esgotava, mas nunca em agosto", revelou, por seu lado, Fernando Ramalho, da Tigre de Papel, em Lisboa. Da sua experiência, são os pais do 1.º e 2.º ciclos, que parecem mais preocupados com a falta de livros.
Segundo Margarida Moreira, da livraria Maia, em Paredes, "seria inevitável haver atrasos", tendo em conta os constrangimentos. "Os pais compreendem e, pacientemente, aguardam", frisou, acrescentando que o número de encomendas é "o normal para esta altura do ano". No caso deste estabelecimento, os livros vão sendo entregues à medida que o fornecimento chega. "Por uma questão de espaço, agradecemos aos pais que os levem até porque os miúdos estão expectantes para ver os manuais do novo ano."
Não adiar encomendas
Para Jorge Ascenção, da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), ainda não há pressão na compra dos manuais, mas apelou às famílias que não adiem as encomendas. "É aconselhável que o façam o mais cedo possível porque as papelarias têm que fazer as encomendas, que demoram tempo", admitindo que, se tal não for feito, ocorram "atrasos reais" quando os novos livros forem necessários.
Em julho, as editoras, através da Comissão do Livro Escolar da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), avisaram que estariam numa "corrida contra o tempo" e que tinham de fazer "em pouco mais de um mês algo que, por regra, exige quatro a cinco meses de trabalho".
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Fonte da Porto Editora, um dos grupos com maior produção de manuais, garantiu que já foram abastecidos "50% dos manuais escolares encomendados", acrescentando ter a expectativa que "até aos primeiros dias de aulas "a grande maioria dos livros estará nas mãos dos alunos. O grupo diz que não há títulos esgotados e que "eventuais falhas que possam existir são sempre momentâneas e resolvidas em pouquíssimos dias". O JN questionou a Leya, mas não teve resposta em tempo útil.
João Alvim, da APEL, alerta ainda para outra questão que tem a ver com o risco de concentração de clientes à porta das livrarias para levantar os manuais. O responsável explicou não entender que o limite seja inferior à de outras atividades em espaços idênticos, tendo a APEL já alertado os ministérios da Educação, Economia e Cultura para a questão.
Livros gratuitos
Os manuais escolares são gratuitos, mas têm de ser devolvidos no final de cada ano letivo. A entrega é feita por "vouchers", através da plataforma MEGA, que, por norma, permite o levantamento dos livros usados nas escolas ou de novos em livrarias e papelarias.
Devolução cancelada
Este ano, já se sabia que os manuais seriam todos novos no 1.º Ciclo. Por causa da pandemia, a devolução dos livros dos restantes anos foi cancelada, obrigando à produção de muito mais do que os inicialmente previstos.
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Cinco milhões
A 13 de agosto, o Ministério da Educação informou que desde o dia 3 já tinham sido disponibilizados cinco milhões de "vouchers" para os manuais.