Manuel Clemente reagiu esta segunda-feira aos cartazes e manifestações públicas de desagrado nos últimos dias para lembrar as vítimas de abusos sexuais da Igreja Católica em Portugal. O cardeal-patriarca confessou que não conhece ainda o local nem o número de vítimas que estarão esta semana com o Papa Francisco.
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“Vivemos numa sociedade democrática e livre. O direito à manifestação é público, e, portanto, façam o que entenderem fazer no respeito pela lei”, reagiu o cardeal-patriarca de Lisboa, numa primeira conferência de imprensa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ, no Pavilhão Carlos Lopes, junto ao Parque Eduardo XII, em Lisboa.
Questionado sobre as ações levadas a cabo por cidadãos para sensibilizar os que milhares que irão visitar Lisboa durante esta semana para os casos de abusos sexuais de menores praticados por membros do clero português desde a década de 50, D. Manuel Clemente sublinhou o “empenho total” da Igreja portuguesa em resolver estes casos, insistindo no trabalho levado a cabo pela rede de prevenção e combate.
Recorde-se que é proibido trazer cartazes grandes e potencialmente ofensivos para os eventos da JMJ, que arranca esta terça-feira e prolonga-se até domingo, em Lisboa. Nesta semana do encontro mundial de jovens católicos, estima-se que passem pela capital um milhão a 1,5 milhões de pessoas.
O cardeal-patriarca referiu ainda que estas comissões diocesanas têm feito o seu trabalho em conjunto com profissionais das forças de segurança, magistrados e psicólogos tal como foi decidido pela Conferência Episcopal Portuguesa.
Manuel Clemente destacou ainda a criação recente do "Grupo Vita", coordenado pela psicóloga Rute Agulhas, que veio substituir, de algum modo, a comissão independente cujo estudo recolheu 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, ocorridos entre 1950 e 2022, apontando para pelo menos 4 815 vítimas.
Quanto ao encontro do Papa Francisco com as vítimas previsto acontecer esta semana durante a visita a Portugal, D. Manuel Clemente confessou que não sabe detalhes sobre local e quantas vão estar com o Santo Padre. “É tão secreto que nem eu sei onde e como vai acontecer", confessou. O responsável não revelou se estará presente no encontro.
“As pessoas que foram vítimas não querem ser publicitadas, o que é perfeitamente normal. Aliás, muitas delas pediram-nos precisamente isso. Darão um testemunho para que o assunto tenha a resolução possível, mas não querem publicitar”, referiu. Para tentar manter a reserva das vítimas, os pormenores sobre o evento só deverão ser revelados depois.
Já em relação à construção do memorial de homenagem - adiada para depois do encontro mundial de jovens com o Papa -, o cardeal-patriarca garantiu que as vítimas serão lembradas, embora sem revelar quando.
“Com certeza que a Conferência Episcopal resolverá fazer também uma memória do que aconteceu, não apenas de reparação, mas também de chamar a atenção para um problema que está, infelizmente, latente na nossa sociedade, como qualquer outra”, resumiu.
No balanço sobre a semana de pré-jornada que terminou ontem, durante a qual 17 dioceses do país acolheram mais de 67 mil peregrinos de várias nacionalidades, Manuel Clemente defendeu que já se está a criar uma nova geração com a JMJ em Lisboa que “marcará necessariamente” a sociedade portuguesa no futuro.
"Adianto que tenho a certeza que esta experiência de militância, serviço e compromisso de tantos milhares de pessoas [envolvidas na preparação da JMJ] não passa e cria uma geração", defendeu
“A JMJ é, sobretudo, uma obra da juventude portuguesa”, disse Manuel Clemente, lembrando que a sua “pressão” foi fundamental para que a candidatura fosse aprovada em 2018, saudando várias vezes o trabalho ao longo dos últimos dois a três anos dos jovens voluntários. O patriarca celebrará, esta terça-feira, a missa de abertura do encontro no Parque Eduardo VII.