Farmácias que fazem testes rápidos pagos a 100% pelo Estado têm agendas cheias a partir de quinta-feira. Mais de metade dos municípios por abranger.
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Com as novas regras para aceder a eventos ou entrar em restaurantes e em hotéis aos fins de semana, marcar um teste rápido para deteção do Sars-Cov-2 comparticipado a 100% pelo Estado é uma missão quase impossível. A lista de 146 farmácias abrangidas por este regime excecional de comparticipação é curta para a enorme procura e em mais de metade dos municípios do país não há qualquer farmácia a disponibilizar testes rápidos gratuitos.
Basta percorrer a listagem, disponível no site do Infarmed, e contactar as farmácias inscritas para rapidamente se perceber a tarefa árdua que é encontrar uma vaga para realizar um teste com validade para o próximo fim de semana.
Refira-se que os testes rápidos de antigénio têm de ser realizados nas 48 horas anteriores à sua apresentação. Ou seja, para quem pretende passar o fim de semana num hotel ou está a planear um jantar no interior de um restaurante no sábado, o teste tem de ser realizado a partir de quinta-feira. Há sempre a alternativa de pagar pelos testes rápidos ou pelos autotestes, mas para quem quer usufruir do direito a quatro testes rápidos gratuitos por mês, fica difícil.
O JN contactou, na terça-feira, mais de uma dezena de farmácias da Área Metropolitana do Porto que fazem testes comparticipados e a esmagadora maioria informou que já não tem vagas para esta semana. A farmácia Henriques, no Porto, faz por ordem de chegada, mas as filas são grandes e os testes já chegaram a esgotar.
"Os telefones não param"
Nuno Machado, farmacêutico do Grupo Holon, que tem quase 200 farmácias em todo o país, explica que a pressão começou por se sentir na região de Lisboa, onde a comparticipação dos testes rápidos começou há mais tempo. "Com esta medida do Governo, que alarga comparticipação a muito mais farmácias, o caos estendeu-se ao país inteiro", assinalou. Tudo aconteceu muito rapidamente e, "apesar da capacidade de adaptação e resiliência das farmácias, os telefones não param e 99% são para marcar testes". A isto, soma-se "todo o trabalho normal das farmácias e o período de férias", refere o farmacêutico. A procura é também elevada nas farmácias que só fazem testes pagos pelo utente.
Nas farmácias do grupo, as marcações são feitas de semana a semana, para evitar abusos de alguns utentes, e "as vagas de quinta, sexta e sábados desaparecem num instante". Também aqui, o fenómeno começou primeiro em Lisboa, quando foram impostos testes para sair da área metropolitana ao fim de semana, mas, agora, com as novas regras, a tendência de procura alastrou ao resto do país.
As farmácias abrangidas pelo regime de comparticipação excecional (previsto na portaria 138-B de 30 de junho) recebem 10 euros por cada teste, o que explicará a baixa adesão. "São menos de 150 farmácias em mais de 2500", nota Cláudia Cunha da Mota, farmacêutica coordenadora do grupo Sofarma, que detém sete farmácias no Norte do país e nenhuma aderiu. Ao todo, há 187 municípios que não têm qualquer farmácia com testes grátis. Somando "o trabalho para realização dos testes, o custo com os kits e o material de proteção e a logística associada ao agendamento, às declarações e ao reporte de resultados, o preço não compensa", garante.
O JN questionou o Ministério da Saúde sobre a inexistência de farmácias aderentes ao regime de comparticipação na maioria dos municípios, mas não recebeu resposta. A Associação Nacional de Farmácias também não respondeu.
Regras onde o risco é maior
O que apresentar
Desde 9 de julho que, para frequentar um hotel ou restaurante (interior) às sextas-feiras ao final do dia e ao fim de semana nos concelhos de risco elevado ou muito elevado, é obrigatório apresentar certificado digital de vacinação (completa), de recuperação da doença ou teste negativo.
Preços variam
São admitidos os testes PCR (até 100 euros sem prescrição médica), os rápidos (preços entre os 20 e os 25 euros nas farmácias) e os autotestes (a partir de 2,79 euros).